quarta-feira, 20 de julho de 2022


20 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

DESVARIOS REPETIDOS

Foi embaraçosa para o país a atitude do presidente Jair Bolsonaro de chamar embaixadores ao Palácio da Alvorada para repetir informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. A figura que ocupa o mais alto posto da República, em um comportamento inadequado para a estatura do cargo, voltou a desfiar uma série de teorias conspiratórias outras vezes já didaticamente refutadas sobre as urnas eletrônicas, além de atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Supremo Tribunal Federal (STF) e parte de seus ministros.

A representantes de governos estrangeiros no Brasil, Bolsonaro tentou, sem apresentar qualquer prova, desacreditar instituições nacionais e colocar em dúvida a lisura do pleito de outubro e de anos anteriores. O próprio presidente e seus filhos, é imperioso ressaltar, foram inúmeras vezes eleitos por meio da tecnologia - transparente, segura, auditável e constantemente aprimorada - empregada há 26 anos de maneira exitosa e sem qualquer indício palpável de fraude.

Ao sugerir que pode não aceitar o resultado das urnas, Bolsonaro faz mais uma ameaça à democracia e rebaixa o Brasil à condição de republiqueta. Mas, ao mesmo tempo que alimenta desconfianças de que pode tentar uma ruptura, faz um discurso de derrotado, à semelhança de Donald Trump, nos Estados Unidos. Convocar embaixadores de outras nações para repisar teses infundadas pouco adianta se a intenção for buscar benevolência para qualquer aventura antidemocrática. Os corpos diplomáticos são profissionais e sabem diferenciar informação confiável de boataria.

É aflitivo, no entanto, que o novo rompante autoritário tenha recebido respostas ainda tímidas das principais instituições. Se manifestaram na segunda-feira o presidente do TSE, Edson Fachin, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Ontem, foi a vez de Luiz Fux, à frente do STF, repudiar a investida, mas por meio de uma nota curta e protocolar.

Embora sintomáticos, são lastimáveis a inação e o silêncio do procurador-geral da República, Augusto Aras, e do todo -poderoso Arthur Lira, presidente da Câmara.Aras tem uma postura reiteradamente passiva, omitindo-se em relação ao esperado para sua função. Lira, já ficou claro, tira proveito para si e seus aliados da aliança com o Planalto ao ter acesso franqueado à chave do cofre do orçamento da União em troca de proteção.

Os ataques às democracias nas décadas atuais, têm mostrado os estudiosos da ciência política, prescindem de tanques nas ruas. São desferidos aos poucos, forçando e esgarçando limites legais, normalizando disparates, desmoralizando e cooptando instituições e os sistemas de freios e contrapesos. A sociedade brasileira e seus líderes, conscientes da gravidade do momento atual, têm de erguer a voz para repetir que o pleito de outubro ocorrerá dentro da normalidade e os eleitos, em respeito à decisão soberana da maioria dos votantes, serão diplomados e tomarão posse.

OPINIÃO DA RBS

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