12 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
LOGÍSTICA DESCARRILADA
Transporte ferroviário significa eficiência e menor custo em qualquer lugar do mundo, especialmente para produtos a granel. É decepcionante que, em relação a esse modal, o Rio Grande do Sul ande na contramão do que seria o ideal para os interesses da economia gaúcha. O fato é que há uma década o transporte sobre trilhos no Estado vem encolhendo, com o contínuo abandono de trechos, sem que a concessionária responsável pela malha acene com perspectivas concretas de melhora no serviço.
Em 2011, no auge do movimento pelas estradas de ferro após a privatização, em 1997, quase 14 milhões de toneladas de produtos foram transportados pelas ferrovias no Rio Grande do Sul. Cinco anos depois, em 2016, somente 8 milhões de toneladas, pouco mais da metade. Em 2021, mostrou reportagem de Rafael Vigna publicada ontem, a operadora Rumo informa, sem ser precisa, 3 milhões de toneladas de grãos e farelo e outra quantidade não especificada de combustíveis e fertilizantes. Dos 3,15 mil quilômetros de trilhos que recebeu na concessão, apenas 1,65 mil estão ativos. Em 2016, eram 1,9 mil quilômetros, o que demonstra a paulatina desativação das vias.
O uso menor de ferrovias gera consequências que vão além da perda de competitividade. Apesar dos episódios pontuais de estiagem, o Rio Grande do Sul vem aumentando a safra de grãos nos últimos anos. Carga, portanto, há. A utilização menor de trens significa elevar a dependência do transporte por caminhões, o que acelera a deterioração das estradas e eleva o tráfego de veículos pesados nas rodovias, aumentando o risco de acidentes.
A alegação de que existiriam trechos sem viabilidade econômica não é nova. Por outro lado, possíveis usuários também se queixam de que a empresa, ao longo dos anos, não mostra real interesse em captar novos clientes com contratos volumosos e de longo prazo. Locomotivas e vagões direcionados para o Estado também são considerados defasados e menos eficientes.
A Rumo volta a condicionar definições ao desfecho da antecipação da renovação da concessão (que originalmente vence em 2027) da malha sul, que também inclui Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Mas esse é outro tema que se arrasta desde meados da década passada. Como bem ponderam especialistas e envolvidos com o tema da logística no Estado, seriam necessárias garantias concretas de investimentos e reativação dos serviços para esta revalidação. Poder público e entidades empresariais têm de ficar vigilantes para que, se um novo contrato for assinado, restem assegurados compromissos para revitalizar o transporte ferroviário no Rio Grande do Sul. Ou, então, que se busque viabilizar alternativas, como a operação de trechos existentes por outros interessados.
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