sábado, 23 de julho de 2022


23 DE JULHO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

INQUIETA PERGUNTA

Uma pergunta inquietante paira no ar: o que pretendeu o presidente Jair Bolsonaro ao reunir-se com cerca de 40 embaixadores estrangeiros para dizer-lhes que o sistema eleitoral do Brasil não é confiável?

Foi adiante o presidente da República, afirmando que a apuração eletrônica é uma farsa e que, por isso, a "estabilidade democrática" depende do ajuste das urnas. Descumprir a "estabilidade democrática" seria um golpe de Estado?

A insinuação foi tão direta que, em Washington, o governo dos Estados Unidos, de imediato, rebateu as afirmações de Bolsonaro: "As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo", disse o governo de Joe Biden.

Mesmo soando em apoio ao vigente sistema eleitoral brasileiro, a manifestação do governo Biden não impediu que Bolsonaro mobilizasse diferentes setores governamentais para respaldar suas esdrúxulas afirmações. Os ministros da Defesa e da Justiça, além do Gabinete de Segurança Institucional (ou seja, o tripé da ação política governamental), apoiaram publicamente as afirmações de Bolsonaro aos embaixadores. Logo, somaram-se a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU), numa tentativa de dar consistência ao que Bolsonaro sustentou.

Mobilizar diferentes áreas governamentais parece mostrar apenas uma tática para chegar a um fim determinado. Quando põe em dúvida o sistema eleitoral sob pretexto de que é "farsa", o presidente da República estaria pensando em quê?

Todas as alternativas levam a uma interrupção da eleição de outubro, algo similar a um golpe de Estado, totalmente diferente de 1964 (que nasceu em Washington em plena Guerra Fria), mas que, em certos aspectos, lembraria 1937. A diferenciação é que, em 1937, o Exército forçou Getúlio a golpear e, agora, Bolsonaro forçaria as Forças Armadas a acompanhá-lo no golpe.

Aqui, no Rio Grande, outra pergunta inquietante: por que três ex-deputados e atuais conselheiros do Tribunal de Contas (Alexandre Postal, hoje presidente do órgão, Marco Peixoto e Iradir Pietroski) continuam se negando a devolver R$ 1,2 milhão ganhos ilegalmente do Estado, descumprindo até uma sentença judicial?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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