segunda-feira, 18 de julho de 2022


18 DE JULHO DE 2022
ARTIGOS

O SER HUMANO É GENUINAMENTE MAU? OU BOM?

Se imaginarmos os 4 bilhões de anos de vida na Terra transcorridos em apenas um ano, o homem surgiria em 31 de dezembro, lá pelas 23h. E a agricultura iniciou-se às 23h58min. Portanto, surgimos e nos espalhamos de repente. Na história da evolução, somos um bebê.

Estudos arqueológicos têm indicado que o homem forrageador não enfrentava guerras, vivia de caça e coleta e não morria de forma violenta. A guerra, a priori, não ocorria. Esse modus operandi perdurou por um imenso período na história.

Mas por que o Homo sapiens prosperou? Talvez por sua inteligência. Já sugere o nosso "nome" sapiens. Com uma "inteligência maquiavélica" usaríamos nosso cérebro para vencer? Maquiavel recomendava não demonstrar emoções, a vergonha não serviria a nenhum propósito. Já Darwin, nosso maior evolucionista, definiu que a capacidade de corar (de vergonha) "é a mais peculiar e a mais humana de todas as expressões".

Ora, se temos a capacidade inata de corar, então nascemos programados para reconhecer o certo? E o errado?

Segundo Hobbes, desde que cercamos um pedaço de terra para plantar, ao invés de caçar e coletar, iniciamos a temer ataques, a nos proteger e, eventualmente, agredir. As guerras seriam a consequência máxima das disputas de espaço.

Já J. J. Rousseau defende que o homem é bom por natureza. Citemos as descrições de 1492 dos homens "civilizados" chegando às Bahamas e descrevendo a passividade e benignidade dos nativos americanos.

As notícias, em geral, contribuem em muito para criarmos uma concepção de que o ser humano é um ser, genuinamente, "do mal". As boas ações do ser humano em geral não são notícia. A solidariedade que nos desperta nas enchentes, nas catástrofes, tem grandeza e valor subnotificados. Na minha prática, vejo famílias ajudarem vizinhos de quarto do hospital, às vezes oferecendo até a própria casa para auxiliar uma família desconhecida e fragilizada. 

Um inglês comprou uma casa para emprestar a uma família ucraniana emigrada. Encontrei estatísticas da Segunda Guerra Mundial que demonstram que a maioria das armas utilizadas por soldados ingleses e franceses estava carregada ao fim da guerra e não havia disparado tiros. A maioria dos tiros é efetuada por uma minoria.

Enfim, o assunto é longo, mas tendo a dizer que somos genuinamente bons. A civilização, como evento da humanidade, é algo recente. A guerra, uma doença humana adquirida.

 Médico cardiologista e internista, professor de Medicina (UFRGS) - LUÍS BECK DA SILVA NETO

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