sábado, 16 de julho de 2022


16 DE JULHO DE 2022
PNEUMOLOGIA

COMO FUNCIONAM

u São aparelhos alimentados por bateria de lítio e um cartucho ou refil, que armazena o líquido. Esse aparelho tem um atomizador, que aquece e vaporiza a nicotina. O aparelho traz ainda um sensor, que é acionado no momento da tragada e ativa a bateria e a luz de LED.

u A temperatura de vaporização da resistência é de 350°C. Nos cigarros convencionais, essa temperatura chega a 850°C. Ao serem aquecidos, os dispositivos eletrônicos para fumar liberam um vapor líquido parecido com o do cigarro convencional.

u Os cigarros eletrônicos estão na quarta geração, com maior concentração de substâncias tóxicas. Existem ainda os cigarros de tabaco aquecido: dispositivos eletrônicos para aquecer um bastão ou uma cápsula de tabaco comprimido a uma temperatura de 330°C. Dessa forma, produzem um aerossol inalável.

O médico Drauzio Varella publicou recentemente, no caderno Vida, duas colunas em que se manifesta contrário à liberação do cigarro eletrônico. Confira trechos:

"O cigarro é um dispositivo projetado para administrar nicotina, droga que causa a mais escravizadora das dependências químicas. A experiência clínica em cadeias me ensina que é mais fácil largar o crack. Não é à toa que cerca de 20% da população mundial caiu nas garras dos fornecedores: em sua maioria empresas multinacionais que fabricam 6 trilhões de cigarros por ano. Tamanho sucesso de público é explicado pelo fato de que 15 segundos depois de uma tragada, cerca de 25% da nicotina chega aos neurônios dos centros de recompensa do cérebro. Está provado que quanto mais rápido o pico de ação de uma substância psicoativa, maior é o risco de dependência." (14/5/2022)

u "Cigarros eletrônicos estão criando uma legião de novos dependentes de nicotina. Vamos perder décadas de trabalho educativo no combate ao fumo. Descontada a escravidão, o cigarro foi o maior crime continuado da história do capitalismo internacional. Que outro seria comparável ao de investir fortunas em publicidade, criar lobbies para corromper autoridades, pressionar financeiramente a imprensa para não divulgar os malefícios do fumo, contratar cientistas de aluguel para contestar as pesquisas que o ligavam ao câncer, às doenças cardiovasculares, pulmonares e a tantas outras que encurtam a vida dos usuários crônicos em pelo menos 10 anos?" (18/6/2022)

ESTUPRO

Estupradores despertam em mim ímpetos de violência, a custo contidos. Tive o desprazer de entrar em contato com muitos deles nos presídios. No antigo Carandiru, cumpriam pena isolados nas celas do último andar do Pavilhão Cinco, única maneira de mantê-los a salvo do furor assassino da massa carcerária.

Ao menor descuido da segurança interna, entretanto, eram trucidados com requintes de crueldade. As imagens dos corpos mutilados trazidos à enfermaria para o atestado de óbito, até hoje me perseguem.

Para livrá-los da sanha dos companheiros de prisão, a Secretaria da Administração Penitenciária foi obrigada a confiná-los num único presídio, no interior do Estado. Nas áreas das cidades em que a Justiça caiu nas mãos dos tribunais do crime organizado, o estuprador em liberdade não goza da mesma benevolência.

Assinada pela jornalista Claudia Collucci, com a análise de Fernanda Mena, a Folha publicou, em 2017, uma matéria sobre o aumento do número de estupros coletivos no país. Os números são assustadores: dos 22.804 casos de estupros que chegaram aos hospitais no ano passado, 3.526 foram coletivos, a forma mais vil de violência de gênero que uma mente perversa pode conceber. Segundo o Ipea, 64% das vítimas eram crianças e adolescentes.

O estupro coletivo é a expressão mais odiosa do desprezo pela condição feminina. É um modo de demonstrar o poder do macho brutal que exibe sua bestialidade, ao subjugar pela violência. Não é por outra razão que esses crimes são filmados e jogados na internet.

Oficialmente, no Brasil, ocorrem 50 mil registros de estupros por ano, dado que o Ipea estima corresponder a apenas 10% do número real, já que pelo menos 450 mil meninas e mulheres violentadas não dão queixa à polícia, por razões que todos conhecemos.

Em 11 anos atendendo na Penitenciária Feminina da Capital, perdi a conta das histórias que ouvi de mulheres estupradas. Difícil eleger a mais revoltante.

Se você, leitora, imagina que as vítimas são atacadas na calada da noite em becos escuros e ruas desertas, está equivocada. Há estimativas de que até 80% desses crimes sejam cometidos no recesso do lar. Os autores não são psicopatas que fugiram do hospício, mas homens comuns, vizinhos ou amigos que abusam da confiança da família, padrastos, tios, avós e até o próprio pai.

A vítima típica é a criança indefesa, insegura emocionalmente, que chega a ser ameaçada de morte caso denuncie o algoz. O predador tira partido da ingenuidade infantil, das falsas demonstrações de carinho que confundem a menina carente, do medo, da impunidade e do acobertamento silencioso das pessoas ao redor.

Embora esse tipo de crime aconteça em todas as classes sociais, é na periferia das cidades que adquire caráter epidêmico, sem que a sociedade se digne a reconhecer-lhe existência.

A fama do convívio liberal do homem brasileiro com as mulheres é indevida. A liberdade de andarem com biquínis mínimos nas praias ou seminuas nos desfiles de Carnaval fortalece esse mito. A realidade é outra, no entanto: somos um povo machista que trata as mulheres como seres inferiores. Consideramos que o homem tem o direito de dominá-las, ditar-lhes obrigações, comportamentos e regras sociais e puni-las, quando ousarem decidir por conta própria.

Há demonstração mais contundente da cultura do estupro em nosso país, do que os números divulgados pelo Ipea: 24% dos homens acham que "merecem ser atacadas as mulheres que mostram o corpo". Ou, na pesquisa do Datafolha: 42% dos homens consideram que "mulheres que se dão ao respeito não são atacadas".

Não se trata de simples insensibilidade diante do sofrimento alheio, mas um deboche descarado desses boçais para ridicularizar as tragédias vividas por milhares de crianças, adolescentes e mulheres adultas violentadas todos os dias, pelos quatro cantos do país.

O impacto do estupro sofrido em casa ou fora dela tem consequências físicas e psicológicas terríveis e duradouras. O estuprador pratica um crime hediondo que não merece condescendência e exige punição exemplar. Uma sociedade que cala diante de tamanha violência é negligente e covarde.

DRAUZIO VARELLA

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