26 DE JULHO DE 2022
INFRAESTRUTURA
RS lidera em projetos para parques eólicos em alto-mar
Ibama tem 17 propostas cadastradas, mas concretização depende de ajustes legais e investimentos em linhas de transmissão
O Rio Grande do Sul desponta como destino brasileiro mais cobiçado para a exploração de nova, promissora e bilionária fonte de energia limpa. O Estado concentra o maior número de empresas interessadas em implantar parques eólicos em alto-mar no país, com 17 dos 54 empreendimentos desse tipo cadastrados até agora no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ou quase um terço das iniciativas. Para concretizar esse potencial, pelo qual apenas uma companhia prevê aplicar mais de R$ 100 bilhões, é preciso fazer um tema de casa que inclui o ajuste de normas legais e novas ampliações da capacidade de transmissão elétrica.
A exploração dos ventos sobre mar ou lagoas, chamada offshore, é uma das modalidades de geração energética com melhores perspectivas no mundo em razão da busca por fontes mais sustentáveis do que os combustíveis fósseis. O custo para implantar esse tipo de usina ainda pode ser mais do que o dobro em relação aos complexos terrestres, mas a diferença vem sendo reduzida, e muitas grandes empresas já priorizam esse modelo de exploração em razão dos ventos mais fortes, constantes e da menor disputa por espaço.
- Empresas que atuam na Europa, onde existe pouca terra desocupada, já foram para o alto- mar. Além disso, recebem bonificações de fundos internacionais de financiamento por desenvolverem projetos semelhantes em países em desenvolvimento. O crescimento do offshore vai ocorrer no Brasil, e os Estados que tiverem melhores recursos de vento e logística saem na frente - afirma a diretora de Operações e Sustentabilidade do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Estado (Sindienergia-RS), Daniela Cardeal.
Ainda não há empreendimento do tipo no Brasil, mas os gaúchos estão no pelotão de frente dessa corrida. Para isso contam com ventos fortes sobre o mar, onde o potencial de geração chega a 80 gigawatts - representa quase quatro vezes mais do que a capacidade instalada em parques eólicos terrestres hoje no Brasil. E há outros itens que ajudam a explicar o interesse do setor privado, como estrutura e espaço disponíveis no porto de Rio Grande, qualificação da mão de obra e excelência das universidades.
- O Rio Grande do Sul tem se mostrado atrativo justamente por já ter uma boa infraestrutura - avalia a presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum.
Interesse
O gerente de Planejamento da Portos RS, Fernando Estima, revela que oito grupos empresariais já procuraram formalmente a gestão do porto gaúcho com interesse em transformar o local em uma possível base de operações para projetos offshore.
O Estado tem hoje folga de cerca de 8,8 gigawatts para transmitir a energia gerada. Mas já é preciso pensar em mais investimentos porque só a capacidade dos projetos cadastrados somam mais de 15,5 gigawatts em solo e outros 44,7 gigawatts no mar. Novas ampliações dependem de leilões organizados pelo governo federal a partir de demandas discutidas com representantes do Estado. Por meio dos leilões, interessados da iniciativa privada assumem o custeio e a construção das novas linhas.
- Temos nos organizado com a Agência Nacional de Energia Elétrica e o Ministério de Minas e Energia para discutir a ampliação da malha - diz a secretária estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann.
Embora seja considerada uma fonte energética mais limpa, a exploração do vento sobre águas também mobiliza ambientalistas. Entidades, como a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), já pediram "regras claras e fiscalização ativa e transparente" para parques offshore, assim como previsão de multas e planos de ação para eventuais desastres ambientais.
MARCELO GONZATTO
Nenhum comentário:
Postar um comentário