quarta-feira, 31 de janeiro de 2024


31 DE JANEIRO DE 2024
CARPINEJAR

Entregue morta aos pais

O feminicídio não expõe apenas a crueldade do machismo, mas traz à tona um ultraje e um deboche à condição feminina. Não são homens feridos em seu orgulho, mas homens escarnecendo a independência das mulheres.

É como se não houvesse livre-arbítrio depois de um casamento, é como se o divórcio ainda não existisse.Não são homens passionais que não aceitam ser trocados, mas homens frios, calculando um por um de seus passos de carnificina. Ainda que usem facas, chaves de fenda, armas de ocasião, empunhadas de última hora, estão querendo matar há muito tempo, ameaçam matar várias vezes antes de consumar o ato. Avisam de suas intenções, bloqueiam a esperança de recomeços de trajetória.

O que aconteceu em Montenegro não tem precedentes. Trata-se de uma cena do mais puro desprezo. O ex-companheiro e assassino da personal trainer Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos, fez questão de deixar o corpo na frente da casa dos pais dela, enrolado num cobertor. Imagine os pais abrindo a porta da residência de manhã, na última sexta-feira, para descobrir sua filha sem vida, no auge da carreira, apagada pela violência do seu ex-marido.

É como se o antigo genro devolvesse a filha aos pais, agora morta. Como se dissesse a eles "ela não será de mais ninguém, nem de vocês". A que ponto chegamos: um cadáver é um monumento da possessividade, um troféu do ciúme, uma estátua da aberração humana? O ventre de uma família secou devido a um altar sanguinário. Há no gesto uma soberba satânica de filmes de terror, uma oferenda às avessas, um tributo gratuito ao ódio, em que a vida de uma mulher não vale nada.

Ele não escondeu o corpo, entregou desavergonhadamente o corpo frio e inerte aos pais. Mostrou a anatomia do fim, confiante da execução, consciente de sua responsabilidade. Confessou-se na delegacia em seguida. Pelo descaso do processo de descarte, sugere nem se importar com a prisão, pois já destruiu a existência de quem invejava.

Provocou a dor da forma mais sádica possível. Não bastasse causar o pior sofrimento do mundo - que é perder uma filha na flor da idade, em condições absolutamente desnecessárias e prematuras, pela mais completa injustiça, por motivo torpe -, ainda escancarou a vítima em praça pública, entregando-a a um endereço, tal encomenda macabra.

Débora não pôde se mudar para o apartamento que havia escolhido alguns dias antes e começar uma nova história depois de 11 anos de convivência com o ex. Seus itens pessoais ficaram eternamente nas caixas de papelão. Sua coragem pelo divórcio encontrou a covardia no caminho.

Formada em Educação Física na Unisinos, estrela do fisiculturismo na academia em que atuava, protagonista na carreira esportiva havia 13 anos, sofreu latrocínio do seu sorriso. Sua alegria foi roubada e assassinada.

É o nono feminicídio em um mês, o oitavo no interior do Estado. Não dá para fingir normalidade. A natureza de crime hediondo não vem inibindo os agressores. Estou escandalizado, e você?

CARPINEJAR

31 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

ESPREITA IRREGULAR

São graves as suspeitas de que o governo Jair Bolsonaro teria montado uma estrutura paraestatal de bisbilhotagem para monitorar adversários políticos e outros cidadãos considerados potencialmente inimigos de sua gestão. Os indícios conhecidos até agora apontam para o possível uso de agentes públicos lotados na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e de tecnologias adquiridas pelo órgão para controlar passos de opositores de forma ilegal, ainda não se sabe com qual finalidade.

A democracia não comporta uma deturpação do gênero. A Abin, seus servidores e meios devem ser empregados de acordo com os interesses do Estado brasileiro, e não para o proveito particular ou político do governante de turno. Trata-se de uma agência a serviço da instituição Presidência da República e dos ministérios, com a missão legal de auxiliar com informações e análises estratégicas. Não é admissível que seja usada para fins pessoais.

A seriedade do caso exige uma investigação profunda para o esclarecimento do que ocorreu, quem são as pessoas envolvidas e as motivações. É de extrema importância, ainda, vir a público a lista de vítimas da espreita ilícita, espionadas sem qualquer justificativa ou determinação judicial.

As apurações por parte da Polícia Federal (PF) tiveram início com a revelação do jornal O Globo, em março do ano passado, sobre o uso irregular do software First Mile, adquirido pela agência em 2018, para vigiar por geolocalização de telefones celulares a movimentação de ministros do STF, governadores, parlamentares, policiais, advogados e jornalistas. Soube-se depois que seriam ao menos 1,5 mil aparelhos monitorados. A estrutura da agência também teria sido utilizada para auxiliar a defesa de filhos do ex-presidente em processos judiciais.

Os lances mais recentes ocorreram nos últimos dias. Na semana passada, a PF deflagrou operação contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin. Na segunda-feira, o principal alvo foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente. Há elementos relevantes a indicar uma atuação antirrepublicana, como a mensagem em que uma assessora de Carlos pede a Ramagem informações sobre inquéritos relacionados à família Bolsonaro.

Precisa ser lembrado que as suspeitas relativas a uma "Abin paralela" são mais antigas. Em março de 2020, em uma entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência da República de Bolsonaro, revelou que Carlos, no início de 2019, surgiu com o nome de um delegado da PF e de três agentes que fariam parte da tal agência de informações extraoficial. Na famigerada reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o próprio Jair Bolsonaro mencionou que se valia de um sistema de inteligência particular.

As apurações policiais, porém, devem transcorrer sem qualquer abuso ou violação às prerrogativas dos investigados. Os cuidados necessários incluem operações sem espetacularização, sem margem para a politização ou atitudes que alimentem teorias de perseguição. A ampla defesa e o direito ao devido processo legal precisam ser assegurados. O Brasil conhece bem investigações rumorosas do passado recente que acabaram em impunidade por excessos e irregularidades cometidos por agentes do Estado. A Abin, seus servidores e meios devem ser empregados de acordo com os interesses do Estado brasileiro, e não para o proveito particular ou político do governante

de turno

OPINIÃO DA RBS

31 DE JANEIRO DE 2024
CENTRO DE PORTO ALEGRE

Justiça suspende obra de prédio com quase cem metros

A Justiça Federal suspendeu a construção de um prédio de 41 andares no Centro Histórico de Porto Alegre. A decisão liminar da desembargadora Vivian Josete Pantaleão Caminha, da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, atendeu a ação movida pela Associação dos Amigos do Museu Júlio de Castilhos.

Há possibilidade de recursos à decisão, porém a construtora não se manifestou a respeito por enquanto. A ação foi atendida parcialmente pelo TRF4, pois dois pontos foram indeferidos. Foram negados o pedido de multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento da decisão e a suspensão do processo administrativo de licenciamento da obra.

O prédio de 98 metros de altura é um projeto da Melnick, em parceria com o Grupo Zaffari, e conecta, por meio de uma torre, a Rua Duque de Caxias com Rua Fernando Machado. O projeto tramita na prefeitura desde 25 de março de 2022.

O empreendimento provoca polêmica há meses em razão de regras do Plano Diretor da cidade e de proteção do patrimônio histórico do Estado. O Ministério Público vem monitorando o processo de licenciamento para construção. A Associação dos Amigos do Museu Júlio de Castilhos diz temer danos à instituição caso o edifício seja mesmo erguido.

O presidente da entidade, Claudio Ferreira, frisa que, além de ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o museu tem cerca de 400 peças tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), motivo pelo qual a ação civil pública tramita na esfera federal. Ontem, o museu completou 121 anos.

- O Museu Júlio de Castilhos é o mais antigo do Estado e o quinto mais antigo do Brasil e o que mais nos motiva é a defesa desse patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul - frisa o presidente.

JEAN PEIXOTO

31 DE JANEIRO DE 2024
MÁRIO CORSO

O valor dos velhos

A Ilha de Rennell, ou Mugaba - seu nome nativo -, fica no sudoeste do Pacífico. É a mais austral do arquipélago das Ilhas Salomão. Em 1910 um ciclone devastou as plantações dos ilhéus. Os habitantes ficaram arruinados, não tinham o que comer. Antes que as novas roças produzissem, precisavam recorrer a outro expediente para não morrerem de fome.

A comida de qualquer lugar é escolhida por ser palatável, nutritiva e fácil de conseguir. Mas existem outros alimentos que são deixados de lado. Por energeticamente não renderem tanto, ou serem parcialmente tóxicos, exigindo um processo a mais, ou ainda por terem gosto ruim. Porém, servem como alimento.

Diante dessa catástrofe, a questão era saber quais seriam esses alimentos alternativos. Não dá para sair comendo qualquer coisa, existem plantas inúteis como alimento, ou indigestas, ou ainda venenosas.

Essas plantas alternativas, hoje as conhecemos como Panc (plantas alimentícias não convencionais). Aliás, no Brasil não teríamos esse problema. Existe um excelente livro a respeito: Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil, de Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi. Além de trazer as informações e fotos das plantas, ensina como utilizá-las em receitas. Algumas plantas não comemos por ignorância, são tão saborosas e ricas em nutrientes como as convencionais.

Antigamente, os anciãos eram uma enciclopédia viva, guardavam na memória as informações para os problemas que se apresentavam. Neste caso, foram eles que salvaram seu povo. Eles sabiam identificar o que comer e como cada fruto, semente, vagem, raiz, caule ou folha alternativos poderiam ser preparados de forma segura.

Nos anos 1970, Jared Diamond esteve na ilha e registrou o fato. Descobriu o que significava a expressão "depois do hungi kengi", que é o nome que foi dado ao ciclone. Ou seja, os alimentos usados após o ciclone.

Esse caso nos conta como os velhos, que já tinham passado por outras catástrofes, ajudaram os jovens a sobreviver. Nosso tempo empurrou os velhos a serem apenas a memória afetiva da família; de resto são considerados ultrapassados.

Os povos ditos "primitivos" mostram-se mais espertos quanto ao lugar da sabedoria ancestral. Ainda que os dramas do presente possam ser distintos, temos que ter força e coragem para enfrentá-los. Quem pode ensinar resiliência, senão os que trazem cicatrizes de outras batalhas?

MÁRIO CORSO


31 DE JANEIRO DE 2024
INFORME ESPECIAL

Da ficção científica para a vida cotidiana

Elon Musk (foto) conseguiu: anunciou ontem o maior feito de sua startup de neurotecnologia. A Neuralink concluiu o implante de um chip cerebral em humanos. Outras companhias já haviam realizado procedimentos do tipo, mas, agora, a corrida "do impossível" não só se tornou "possível", como real. Se as pesquisas evoluírem, aquilo que nos acostumamos ver em filmes de ficção científica saltará das telas para a vida cotidiana. E, no ritmo em que as coisas vão, não vai demorar.

O objetivo é estabelecer canais diretos de comunicação entre os cérebros e a inteligência artificial. Lembra dos famosos ciborgues? Pois é.

No caso do chip de Musk, a meta é permitir que pessoas com paralisia controlem aparelhos com o pensamento. O dispositivo já havia sido testado em macacos - e eles aprenderam a jogar o videogame sem usar o joystick. Só com o cérebro.

Um mundo de novas possibilidades se abre à frente, com todos os riscos que isso inclui. Que a IA seja usada de forma responsável e ética.

Os anjos da guarda da Polícia Penal

Eles não têm asas, mas são anjos da guarda. Hoje, o Rio Grande do Sul conta com o trabalho de 288 cachorros adestrados - entre eles o pastor holandês Mohoc (foto) - na vigilância de presídios gaúchos. Eles são fundamentais para evitar fugas e dar segurança aos agentes.

Conversei com o responsável técnico pelo Grupo de Operações com Cães da Polícia Penal, Anderson Cardoso, que também lidera o Canil da 9ª Delegacia Penitenciária Regional (na área de Charqueadas). Fiquei impressionada com o que ouvi.

Primeiro, porque, ao contrário dos animais que acompanham os bombeiros, os cães do sistema penal quase não são vistos. Muita gente nem sequer sabe deles.

- É um trabalho que o público em geral desconhece, porque é difícil chegar perto de uma penitenciária. E é importantíssimo - diz Cardoso.

Os cães atuam em diferentes frentes. A mais comum é a guarda externa dos presídios. Eles também participam de ações de busca e apreensão nas cadeias, protegendo os tutores e detectando materiais ilícitos (como drogas).

- Foram 48 operações do tipo em 2023, envolvendo, em média, de 150 a 200 presos, sem nenhum incidente grave - destaca o coordenador.

Outra função canina é a busca e captura - aquilo que a gente vê nos filmes. Quando um apenado foge, cães e policiais vão atrás. Os cachorros são treinados para localizar o fugitivo e, se preciso for, imobilizá-lo.

O mais interessante de tudo isso é que, nas horas de folga, eles são mascotes como quaisquer outros. Os agentes levam os cães para casa.

- Eles são o que chamamos de binômios. São nossos parceiros. Se tiramos uns dias de descanso, levamos eles junto para a praia ou para onde for. E cuidamos bem da saúde deles. São anjos da guarda - resume Cardoso.

JULIANA BUBLITZ

terça-feira, 30 de janeiro de 2024


30 DE JANEIRO DE 2024
CARLOS GERBASE

A alegria de aprender

Certa vez, algumas décadas atrás, o professor Aníbal Damasceno Ferreira me emprestou um livro pequeno, com menos de cem páginas, chamado Reflexões Sobre a Erudição, de Howard Mumford Jones, um acadêmico norte-americano, falecido em 1980, que trabalhava com crítica literária e história do pensamento, além de ser jornalista e escrever poesia. Sempre respeitei as indicações do Aníbal, mas fiz uma cópia xerox e não li. Outro dia, arrumando minha estante de não ficção, reencontrei a cópia e resolvi dar uma olhada, que foi bastante proveitosa.

O livro traz a transcrição de três palestras do professor Jones, proferidas em 1958. A atualidade dos temas, 65 anos depois, é impressionante. A primeira palestra, Guerra, Ciência e Aprendizagem, discute uma reforma universitária que estava retirando verbas das humanidades para investir pesadamente nas ciências "duras" e no ensino de tecnologias. 

A segunda, A Gramática das Artes, cujo texto foi várias vezes grifado pelo Aníbal, defende que conhecer os enunciados básicos de uma disciplina, suas regras e princípios, é um primeiro passo essencial para dominar um campo de conhecimento ou de prática artística. A terceira, Uma Alegria Perene, assegura que a erudição é difícil de ser conquistada, mas o prêmio por um vislumbre do conhecimento é "uma satisfação vivificante e perene".

O Aníbal costumava dizer que é preciso saber a gramática dos filmes para desrespeitá-la com conhecimento de causa. Quem foi seu aluno guarda com carinho as anotações das aulas de linguagem cinematográfica. Ao mesmo tempo, ele incentivava os estudantes a realizar filmes, mesmo que ainda toscos e cheios de "patologias". Lendo Jones, encontro uma excelente síntese dessa união de teoria e prática. Há dois aspectos do aprendizado: "o aspecto do conhecimento sobre, e o aspecto do conhecimento de; isto é a informação erudita e a empatia imaginativa". Trocando em miúdos: a gente aprende lendo, estudando, mas também fazendo.

Se a erudição se transforma num exercício de pedantismo, é absolutamente inútil e estéril. E bem desagradável. A erudição deve dar frutos. Por outro lado, a prática artística (ou científica, ou filosófica) sem uma visão racional e crítica do que foi criado costuma resvalar para o território do sentimentalismo, ou do ativismo mais primário e ineficiente. 

Vivemos num tempo de frivolidades e ambição financeira, em que ser erudito parece ser inútil. Howard Jones ensina que "a alegria da erudição não é a capacidade de resolver palavras cruzadas e ganhar em shows de televisão, mas a capacidade de pensar em termos elevados no homem e sobre ele, e nas artes que melhor o expressam."

Salve Jones! Salve Aníbal! Salve a alegria de aprender!

CARLOS GERBASE

30 DE JANEIRO DE 2024
ARTIGOS

O NETWORKING E A ACADEMIA: RELAÇÕES SEM FRONTEIRAS!

O cotidiano na academia não se restringe ao ensino, à pesquisa e à extensão com a finalidade de se obter um diploma. É uma jornada transformadora, que se estende além dos livros didáticos e das salas de aula, oferecendo uma oportunidade única de construir conexões que possam moldar seu futuro. Um dos principais componentes dessa experiência transformadora é a rede de contatos.

O networking na universidade pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento pessoal e profissional dos seus discentes e docentes. As universidades reúnem indivíduos de várias origens, culturas e áreas do conhecimento. Através das conexões, os alunos se permitem experimentar um rico pool de diversidade. Eles se envolvem com colegas de diferentes disciplinas, adquirindo novas perspectivas, estimulando o pensamento criativo e promovendo uma cultura de aprendizagem empreendedora.

Ao participar ativamente de discussões, projetos em grupo e atividades extracurriculares, o aluno não apenas melhora sua compreensão nos mais diferentes temas, mas também cultiva habilidades interpessoais valiosas, como competências emocionais e sociais que nos permitem estabelecer relacionamentos saudáveis e promover um ambiente colaborativo. Essas conexões podem servir como uma rede de apoio durante momentos estressantes, fornecendo incentivo, conselhos e pontos de vista diferentes na busca de resultados favoráveis.

A mentoria pode ser uma peça decisiva no desenvolvimento pessoal e profissional, auxiliando a tomada de decisões, obtendo uma compreensão mais clara daquilo que se almeja. As redes de ex-alunos (alumni) das universidades são verdadeiras pedras preciosas, com um leque de oportunidades. Edificar conexões com alumni significa ter oportunidades, mentorias e mercados de trabalho.

Muitos empresários e profissionais de sucesso gostariam de poder apoiar e orientar os alunos de sua alma mater, proporcionando uma ponte entre a vida acadêmica e o mundo profissional. Isto precisa ser estimulado. Esta busca continuada pelo networking contribui, ativamente, para uma sociedade mais interconectada, que se estende muito além dos espaços da universidade. Esta é uma verdadeira ponte para o futuro.



30 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

A REFORMA DA VEZ

Apesar dos obstáculos conhecidos para aprovar matérias complexas no parlamento brasileiro em anos eleitorais, governo e Congresso prestariam um grande serviço ao país caso entrassem em um consenso para votar ou ao menos encaminhar a reforma administrativa ainda em 2024. É sabido que, por razões políticas e ideológicas, a gestão Luiz Inácio Lula da Silva é mais resistente a possíveis mudanças nessa seara. De outro lado, há maior disposição dos presidentes do Senado e da Câmara para implementar mudanças em algumas diretrizes na área de recursos humanos do Estado brasileiro.

A despeito das objeções do Executivo e da oposição do funcionalismo, não há como procrastinar por muito mais tempo mudanças que modernizem a política de RH da União e tragam maior produtividade na prestação de serviços à sociedade. É preciso racionalizar gastos com pessoal, introduzir novidades como avaliação de desempenho e discutir as flexibilizações possíveis em pontos sensíveis como a estabilidade. A necessidade de reduzir a pressão por despesas no futuro é ainda mais relevante em nações sempre às voltas com fragilidades fiscais, como o Brasil. O déficit de R$ 230 bilhões do primeiro ano do governo Lula 3, conhecido ontem, ilustra a envergadura do desafio.

A reforma administrativa é a grande alteração estrutural que o país precisa levar a cabo, após as mudanças das regras da Previdência, da legislação trabalhista e da simplificação dos impostos. Polêmico por ser considerado uma espécie de síndico dos interesses eleitorais e corporativos do centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira, tem especial interesse em aprovar mais esta matéria. Seria uma forma de tentar ser reconhecido pelo legado reformista, após ter papel central nas discussões sobre a reestruturação tributária do país, aprovada no ano passado.

Um estudo do Banco Mundial apresentado em 2019 mostrou o grau de distorções vigente no país. O trabalho apontou que, em média, servidores da União ganhavam 96% a mais em relação a um profissional da iniciativa privada da mesma função e qualificação. À época, constatou-se ainda que o governo federal detinha 12% do total de funcionários públicos do país, mas representava 25% da massa salarial. Deformações para serem corrigidas não faltam. Uma delas é diminuir os vencimentos iniciais e fazer com que a progressão nas carreiras, até o topo, seja mais lenta. O excesso de penduricalhos que engordam os contracheques, da mesma forma, precisa ser revisto.

A Câmara tem um texto pronto para ser votado, apresentado pela gestão Bolsonaro, mas que encontra oposição no governo. O atual Executivo, por seu turno, promete apresentar uma proposta em fevereiro. A PEC em tramitação já foi bastante suavizada desde que começou a ser debatida. Valerá, por exemplo, apenas para os servidores que ingressarem no funcionalismo após ser sancionada.

Como toda reforma, a versão final a ser aprovada guardará boa distância da ideal. Ao fim, reproduzirá o consenso político possível. Mesmo assim, é preciso insistir em modernizar a gestão de pessoas no setor público, em busca de maior produtividade, justiça e economia de recursos. Em 2019, quando o tema voltou à pauta, projetava-se que, com a proposta em discussão, a contenção de gastos chegaria a quase R$ 400 bilhões em 10 anos. Mesmo que hoje os números sejam outros, ainda seria uma contribuição positiva para para o país, por apontar para o rumo de sustentabilidade fiscal.

É corrente que governos e parlamentares resistem em tocar em temas espinhosos em anos eleitorais para evitar desgastes que se reflitam nas urnas. A dispersão dos legisladores no segundo semestre, envolvidos nas campanhas, é outro empecilho. A conferir, portanto, a real disposição do Congresso para enfrentar o assunto em 2024 e as linhas da proposição a ser apresentada pelo Executivo.


30 DE JANEIRO DE 2024
+ ECONOMIA

Entre computadores, versões e caso grave

A Polícia Federal esclareceu que o computador da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apreendido ontem não estava na casa de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, em Angra dos Reis. Essa informação havia sido apurada por meio de uma fonte extraoficial da PF e chegou a provocar comentários, inclusive da coluna, no site GZH. Como a checagem e a correção de dados é o que diferencia o jornalismo profissional, a coluna corrige e esclarece. Da casa de Angra, foram levados três notebooks e um celular.

O equipamento da agência foi encontrado na mesma operação, mas em outro endereço, na casa de Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército cedido à Abin na gestão de outro investigado, Alexandre Ramagem.

O fato de não ter sido encontrado um computador da Abin na casa de Angra dos Reis não significa que as suspeitas sobre o envolvimento de Carlos Bolsonaro sejam menores. A PF deixou claro que seu objetivo é comprovar se, como os indícios apontam, Carlos Bolsonaro, seus irmãos e seu pai eram beneficiários de uma operação ilegal, a espionagem de adversários e até de aliados do governo anterior.

Uma das evidências citadas pela PF é uma mensagem enviada por uma assessora do vereador carioca pedindo informações sobre um inquérito da Polícia Federal "envolvendo PR e 3 filhos", em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus três filhos - Flávio, Eduardo e Carlos. O vereador não havia se manifestado até o fechamento desta coluna, mas seus irmãos, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo (PL-SP) consideram "ilegal" a operação na casa da família. Segundo a PF, há indícios de que informações obtidas por meio de espionagem clandestina estavam sendo armazenadas em computadores que não eram conectados à internet.

MARTA SFREDO


30 DE JANEIRO DE 2024
CRISE IMOBILIÁRIA

Tribunal decreta falência do grupo Evergrande

Um tribunal de Hong Kong ordenou ontem a liquidação do endividado grupo imobiliário chinês Evergrande, por considerar que a companhia não apresentou um plano convincente de reestruturação. A decisão da juíza Linda Chan, do Alto Tribunal de Hong Kong, dá início a um processo que inclui a liquidação dos ativos da empresa e substitui os executivos do grupo para tranquilizar os credores.

Evergrande, a maior incorporadora imobiliária da China, acumulou dívidas e registra um passivo de mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,475 trilhão). O credor Top Shine Global apresentou em 2022 um pedido de liquidação, mas o caso se arrastava enquanto as duas partes tentavam negociar um acordo.

"Diante da óbvia ausência de avanços por parte da empresa para apresentar uma proposta de reestruturação viável (...) considero apropriado que o tribunal emita uma ordem de liquidação contra a empresa e assim a ordeno", decidiu a juíza Chan.

Liquidantes

A Evergrande deveria discutir a proposta revisada com os credores, obter uma opinião jurídica e consultar as autoridades chinesas, "mas nada disso aconteceu", afirmou Chan. A juíza escreveu que os interesses dos credores seriam "melhor protegidos" se a empresa fosse dissolvida e liquidantes independentes pudessem administrar o grupo para proteger os ativos e reestruturar da maneira necessária.

Edward Middleton e Tiffany Wong, do escritório de advocacia Alvarez & Marsal, foram nomeados por Chan como liquidantes.

O CEO da Evergrande, Shawn Sui, chamou a decisão do tribunal de "lamentável". O advogado da empresa, Jose-Antonio Maurellet, defendeu ontem a última proposta da companhia e rebateu as acusações de que o grupo agiu de má-fé.

As ações da incorporadora registraram queda expressiva de 20% na bolsa de Hong Kong e as negociações de seus títulos foram interrompidas. A cotação da filial de veículos elétricos do grupo também foi interrompida.

A decisão judicial, no entanto, não provocou grande impacto nos mercados asiáticos em geral, com altas nas bolsas de Hong Kong e Xangai.


30 DE JANEIRO DE 2024
INFORME ESPECIAL

A gente não quer só comida

A dupla de ativistas que jogou sopa na Mona Lisa - a mais célebre pintura (ao lado) do Museu do Louvre, em Paris - deveria ouvir aquela canção dos Titãs. Com tradução simultânea, de preferência. E no volume máximo.

Você sabe, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Para refrescar a memória: a música Você Tem Fome de Quê? foi lançada pelo grupo em 1987, tornando-se um clássico do rock nacional e um hino para quem deseja uma vida plena. Uma vida muito além das necessidades básicas.

Pois as manifestantes que "ensoparam" La Gioconda disseram que o ato, realizado no último domingo, foi um protesto para exigir o direito a uma boa alimentação.

- O que é mais importante? A arte ou o direito a uma alimentação saudável e sustentável? - perguntaram elas, diante da tela.

Quanta ignorância. O quadro nada sofreu, é bom que se diga. Há anos, é protegido por vidro blindado. Ainda assim, não deixa de ser uma tentativa de vandalismo, e o pior: com resultados questionáveis.

Quem defende esse tipo de ação, como já escrevi aqui, quando uma criação de Diego Velázquez foi martelada, em Londres, argumenta que o objetivo é gerar imagens chocantes para chamar a atenção para causas nobres. Pode até ser, mas os efeitos práticos têm sido nulos.

No caso da obra de Velázquez, o protesto de novembro de 2023 exigiu o fim da exploração de petróleo no mundo. Antes disso, em maio de 2022, um homem já havia atirado uma torta na Mona Lisa, em ato contra a destruição do planeta. Agora, ela foi outra vez lambuzada, e o pior: sob a justificativa de uma falsa oposição e ainda desperdiçando comida.

Precisamos tanto de alimentação saudável quanto de arte. Não basta comer bem. É preciso viver bem e isso inclui, sim, ter acesso à cultura. São dois direitos invioláveis.

A letra dos Titãs, lá em 1987, já dava o recado. A gente não quer só comida, não.

A gente brinca que um "abre" e outro "fecha" o jornal - eu, na página 2, ele, no final (ou no início, dependendo de quem lê). Fabrício Carpinejar (no detalhe) é um "cara único", autêntico até a raiz dos cabelos que já não tem. Foi exatamente por isso - e por admirar a forma como ele vê o mundo - que convidei o Carpi para ocupar este espaço.

Em 2011, ele deu vida à série Beleza Interior. Durante um ano, viajou pelos rincões do Rio Grande e relatou, nas páginas de ZH, o que chamou de "passeio pela alma do Estado". As histórias viraram até livro, já esgotado.

Quando pedi a ele que indicasse um lugar para visitar nas férias, ele se lembrou de uma daquelas aventuras. E saiu do óbvio, claro! Apontou um destino para quem é "gaúcho raiz" e carnívoro (perdoem-nos os amigos vegetarianos).

- Escolho o lugar onde comi o melhor churrasco de toda a minha vida: Lagoa Vermelha - disse ele, triunfal, para em seguida explicar:

- Lá, você vai encontrar o churrasco mais suntuoso já visto. Feito em bambu e de lamber os beiços. A carne não é dividida em partes para assar. O boi é crepitado inteiro em fogo de lenha no chão. O assador corta a picanha, o vazio, a costela, tudo no olho. Não existe essa história de pebolim, de virar espeto. É o modo campeiro mais viking que existe.

À época, Carpi foi recebido pelo famoso Chico Fialho (veja ele na foto acima, feita durante a série, em 2011). O exímio assador morreu em 2015. Ficaram as boas lembranças e o sabor da carne preparada com destreza, que fez escola no município.

Lagoa Vermelha, para quem não sabe, é a terra da Festa Nacional do Churrasco. A próxima edição será em fevereiro de 2025, mas você pode provar a iguaria em qualquer época do ano. A dica é almoçar na churrascaria Ponteio Fattoria e se hospedar no Lagoa Parque Hotel, com piscina de água termal e trilha ecológica.

JULIANA BUBLITZ

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024


29 DE JANEIRO DE 2024
CARPINEJAR

O mapa de minhas amizades

Meus pais não me buscavam. Não havia ônibus passando de madrugada. Não existiam aplicativos na época. Não contava com dinheiro para táxi. Eu me virava. Durante toda a minha adolescência nos anos 1980, eu voltava das festas a pé com os amigos.

Nós nos deslocávamos desfalcados de qualquer celular, somente com carteira de identidade no bolso do jeans. Não havia como rastrear a nossa localização. Ninguém sabia onde estávamos. Pelo telefone sem fio, procurávamos reunião dançante em pontos remotos da Capital para entrar como penetras.

Bares e baladas pertenciam a um mundo adulto proibitivo para os nossos trocos. Buscávamos dançar e beber de graça, na base de nossa simpatia de bando. Não pensávamos na distância, apenas queríamos chegar a um festerê, a uma barbada, sem possuir plano algum para o regresso. A ausência de opção resolvia a nossa vida. Como retornávamos conversando, não nos pesava a lonjura. Enfrentávamos o perigo com o destemor da cumplicidade.

Foi assim que eu conheci Porto Alegre: na pernada. Já caminhei do bairro Ipanema ao Petrópolis, do Cavalhada ao Bom Fim, do Teresópolis ao Menino Deus. Dispúnhamos de incertos pilas para dividirmos no caminho um cachorro-quente - duas mordidas para cada um - e uma garrafa de cerveja - três goles para cada um.

Andava com os meus amigos a tiracolo, recapitulando as frustrações e os foras recebidos. Digeria as adversidades amorosas, vendo que não era o único a deixar a noite no seco. Aprendia, na terapia em grupo, a humildade da recusa. Meus tênis cediam primeiro pelas solas, depois furavam nas pontas, marcas da herança dos infinitos paralelepípedos.

Era impressionante que não reclamava do cansaço. A camaradagem noturna oferecia, além do fôlego extra, uma distração dos problemas. Tomava carona nas vozes de meus amigos. Consumíamos o tempo com as risadas, com as implicâncias, com as lembranças das meninas mais atraentes.

Avançávamos por ruelas escuras. A algazarra afugentava o receio do assalto. Quem estava perdido por ali é que ficava com medo da nossa procissão ruidosa. A verdade é que a nossa pobreza coletiva nos conferia segurança. Sequer temíamos as abordagens de estranhos.

Não há sensação mais agradável do que percorrer a própria cidade ao clarão da lua, acompanhado da tropa de sua confiança. Ouvíamos os nossos passos nas calçadas e os pássaros madrugando com seus piares. A claridade chegava aos poucos. Falávamos freneticamente, até entrar nas avenidas conhecidas. Naquele momento, estranhamente nos calávamos.

Quatro quarteirões antes do portão de casa, fechávamos a matraca. Recolhíamos as palavras para facilitar o adeus. Não é que faltava assunto, ou que acabara o filão dos segredos e dos espantos a serem repartidos. A quietude nos preparava para a despedida.

O silêncio significava que estávamos a salvo em nosso bairro. Porto Alegre jamais será intransponível para mim. Minhas amizades sempre me carregam.

CARPINEJAR

29 DE JANEIRO DE 2024
AGENDA

Tributo a um show histórico

No terraço da Casa de Cultura Mario Quintana, Liverpoa Beatle Band reproduz apresentação dos Beatles de 1969

espetáculo audiovisual imersivo

Pablo Sotomayor apresenta o projeto musical SVQO nesta noite, às 20h, no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440). O espetáculo faz parte da programação do 25 º Porto Verão Alegre, e os ingressos estão disponíveis em portoveraoalegre.com.br, a R$ 60.

Em uma apresentação que explora o corpo, a performance e a composição imagética - criada pelo artista por meio de projeções audiovisuais - o compositor, músico e produtor musical realiza uma cartografia poética dos seus últimos 16 anos de produção. Ecoando referências que passeiam pela obra de artistas como Laurie Anderson e David Byrne, Sotomayor explora timbres obscuros da música oitentista intercalados a imagens de arquivo e trechos de textos.

noite de música brasileira

A primeira Roda de Mesa do Grezz (Rua Almirante Barroso, 328) será realizada nesta noite, às 20h. Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 40, pela plataforma Sympla.

Com a presença de diferentes artistas, o evento pretende destacar as raízes culturais do país e a paixão pela música brasileira por meio da reprodução de clássicos de João Bosco, Gonzaguinha, Cartola, Ivan Lins e outros. Lucian Krolow, Max Garcia, Fábio Azevedo, Michael Sampaio, Igor Goulart e Tuti Rodrigues serão os músicos responsáveis por abrir a programação da semana no espaço.

Música

Celebrando 55 anos do dia em que os Beatles apresentaram o icônico Rooftop Concert, em Londres, a Liverpoa Beatle Band sobe até o terraço da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736) amanhã, às 18h30min, para reproduzir o show histórico. O evento tem entrada gratuita.

Em 30 de janeiro de 1969, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr subiram cinco andares rumo ao topo do prédio onde ficava o Apple Corps (empresa multimídia formada pela banda) para realizar o seu último concerto juntos.

Em 42 minutos de show, os músicos realizaram nove tomadas de cinco clássicos do seu repertório: três de Get Back, duas de Don?t Let Me Down e I?ve Got a Feeling; e uma de One After 909 e Dig a Pony.

Além da seleção do Rooftop Concert, o grupo porto-alegrense irá apresentar algumas músicas da carreira dos Beatles, incluindo o mais recente lançamento da banda, Now and Then, gravada por John Lennon em 1970 e finalizada, mais de 50 anos depois, com ajuda de inteligência artificial.

Estrada

Liverpoa surgiu como um trocadilho que faz referência à cidade natal dos britânicos, Liverpool. Na sua formação, conta com os porto-alegrenses Vinícius Bühler (que interpreta John Lennon) e Jerônimo Silvello (que assume o papel de Paul MacCartney); além de Ariel Teixeira (na guitarra de George Harrison) e Lucas Bertolini (como Ringo Starr), naturais de São Leopoldo. Para a apresentação de amanhã, soma-se ao time o tecladista Rafael Petrucci.

Tendo estreado em abril de 2023, a banda já realizou apresentações diversas cidades do Estado, incluindo a abertura do show do Nenhum de Nós, em Canela


29 DE JANEIRO DE 2024
ARTIGOS

CONSTRUIR MEMÓRIA EM NOSSOS CORAÇÕES

No último sábado, 27 de janeiro, completaram-se 11 anos da tragédia na boate Kiss. Mais de uma década depois daquela madrugada, seguimos firmes no propósito de não deixar a tragédia cair no esquecimento. Que nada daquilo se repita - em nosso Estado ou em qualquer outro lugar do mundo.

Para marcar a data, a prefeitura prestou apoio incondicional à Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), que realizou a programação com o tema "Justiça e prevenção, para que nunca mais aconteça". Participaram da iniciativa familiares de vítimas de tragédias brasileiras, como da barragem da Vale em Brumadinho; e do incêndio no Ninho do Urubu, no alojamento do Flamengo. 

Familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia da Kiss também participaram dos painéis, que foram realizados em frente ao prédio onde funcionava a boate, no centro de Santa Maria. A programação integrou a 1ª Semana em Memória às Vítimas da Boate Kiss, que é lei municipal desde novembro de 2023. O objetivo foi que a população pudesse refletir, homenagear as vítimas e se conscientizar sobre prevenção.

Olhando para o futuro sem esquecer o passado, nos próximos dias será conhecida a empresa que transformará as ruínas do prédio da Kiss em memorial via processo licitatório. Ainda neste ano, a estrutura na Rua dos Andradas deixará de existir para dar lugar a um jardim naturalista circular de flores, que vai contar com auditório, escritório, sala multiuso, varanda, entre outros espaços. No local, serão 242 pilares de madeira representando as vítimas da tragédia.

A dor sempre estará presente no coração das famílias. Contudo, levar vida para onde hoje há escombros é uma forma de honrar a memória e trocar a angústia e a inquietação pela paz. O que queremos com o memorial é dar alento físico e espiritual às famílias e aos amigos das vítimas.

Comprometemo-nos com familiares e sobreviventes a fazer tudo que estivesse ao alcance do poder público para construir o memorial, e assim estamos fazendo. Não esqueceremos da nossa história nem das nossas dores e marcas, mas ressignificar aquela estrutura também é construir memória.


29 DE JANEIRO DE 2024
CLÁUDIA LAITANO

Pinimba

A raiva é a emoção que vai mais rápido do zero ao cem. Gostando ou não, somos descendentes de todos os esquentadinhos que avançaram sem medo sobre o mané que estava tentando roubar seu bife ou perturbar algum membro da sua prole. Parou para pensar melhor antes de reagir, foi-se o bife. 

Conclusão: aquela pessoa que nunca levanta a voz, não sabe o que é uma Maracugina e não se exalta nem quando fica sem água e luz em casa por mais de dois dias é um mutante da espécie - ou simplesmente alguém que aprendeu a se controlar.

A série Treta (o título original, Beef, não vem do bife imemorial mencionado acima, mas de uma gíria do inglês que eu traduziria por "pinimba", só para tirar o pó de uma palavra que anda esquecida) mostra o que pode acontecer quando pessoas aparentemente sensatas são dominadas por impulsos primitivos. Disponível na Netflix, a série merece todos os prêmios que ganhou no Globo de Ouro e no Emmy. Se tem uma emoção que estamos precisando entender (e controlar), é a raiva - remota e presencial.

Tudo começa, claro, com uma briga de trânsito. Um incidente na saída de um estacionamento lança um homem e uma mulher que nunca tinham se visto antes em um estado de confronto permanente. O jogo de gato e rato vai se tornando cada vez mais caótico e perigoso, para ambos, sem que haja um lado pelo qual nos sentimos mais inclinados a torcer.

Fiquei imaginando como seria uma série sobre descontrole emocional que tivesse como pano de fundo uma avenida movimentada de uma grande cidade brasileira. Tipos surtados para servir de modelo para os personagens não faltariam. Sempre tem aquele motorista que buzina, com ou sem motivo, como uma criança que chora no supermercado quando a mãe não compra o doce que ela queria. Tem o que grita palavrões na janela, o que faz gestos obscenos e aquele que dirige como se tivesse raiva do mundo - e mais ainda dos motoristas em volta. Haja Maracugina.

Ninguém precisa visitar um museu de história natural para topar com resquícios do homem das cavernas na maneira como nos comportamos em momentos de tensão ou frustração. (O ogro que habita em mim saúda o ogro que habita em você.) Os personagens de Treta são pessoas mais ou menos comuns, até deixarem de ser. A torcida não é para que façam as pazes e virem amigos de infância, mas para que sejam razoáveis e esfriem a cabeça, exatamente o que parece cada vez mais difícil - e não só para eles.

Quando a raiva se torna o eixo em torno do qual todas as outras emoções orbitam, o conflito pelo conflito é muito mais saboroso do que qualquer bife em disputa.

CLÁUDIA LAITANO

29 DE JANEIRO DE 2024
INFORME ESPECIAL

Desafio de sobrevivência no Litoral Sul

Serão 240 quilômetros percorridos a pé, apenas com a roupa do corpo, sem comida ou água, e com direito a apenas duas ferramentas que possam ajudar na subsistência pelo percurso. Assim será o desafio de sobrevivência que terá como local o litoral sul do Estado, mais precisamente entre Rio Grande e o Chuí, entre os dias 12 e 20 de abril. Ao longo do trajeto, entre 30 e 40 quilômetros por dia, os participantes terão de encontrar alimentos e água potável por conta própria e dormir ao relento, desenvolvendo suas habilidades para vencer o ambiente inóspito.

- Largados no Cassino será de nível hard, talvez o mais desafiador de todos os já promovidos pela Via Radical Brasil - diz o coronel da reserva do Exército Marcelo Montibeller Borges, proprietário da empresa que ministra cursos de técnicas de sobrevivência e já organizou desafios semelhantes na Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e no Pampa.

No Rio Grande do Sul, em junho de 2022, os participantes enfrentaram o inverno de noites geladas e chuva em uma área entre Lavras do Sul e Dom Pedrito (foto abaixo). Agora, 12 "sobrevivencialistas" de vários Estados testarão seus conhecimentos e limites em um novo cenário natural. Dois deles, mais experientes, farão a travessia descalços. Sete integrantes já estão confirmados.

- Terão de sobreviver coletando, buscando ovos de aves, peixes e insetos, procurando pequenas sangas para ver se a água é potável - explica Montibeller.

Os participantes, no entanto, também são monitorados e rastreados em tempo real. Tanto para a possibilidade de alguma intercorrência ou intervenção por necessidade como para verificar se as regras são cumpridas. A equipe de apoio terá o bajeense Itamar Charlie, participante da primeira temporada do reality show Largados e Pelados Brasil.

Não é permitido, por exemplo, pedir água ou comida pelo trajeto se encontrarem alguma casa ou pescador da região. As inscrições ainda estão abertas e até interessados sem treinamento podem participar e testar habilidades, resistência física e força mental. Não há competição entre os participantes ou prêmio. A vitória é completar o percurso.

CAIO CIGANA INTERINO

sábado, 27 de janeiro de 2024



Atualizada em 25/01/2024 - 12h18min
MONJA COEN

A razão de viver

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que estimula você para a vida? Quem ou o que desperta sua alegria? Para quem ou para que se curva em reverência e respeito?

O portão de Shureimon, em Okinawa (Japão), onde a população é uma das mais longevas do mundo.

Há uma expressão japonesa, título inclusive de alguns livros e artigos em jornais e revistas, que significa dar vida à sua vida. Ikigai é essa expressão, composta de três caracteres japoneses ou kanjis, e pode ser traduzida como razão de viver, prazer na existência, força para sair da inércia.   

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que faz você sair da cama, do sofá, da poltrona, da cadeira? O que anima, estimula você para a vida? Para quem ou para que você se levanta com alegria? Para quem ou para que você se curva em reverência e respeito?

Pesquisadores descobriram que a população de Okinawa, ao sul do Japão, é uma das mais longevas do mundo. Entre várias causas e condições, perceberam que em Okinawa as pessoas caminham bastante, ao invés de andar só de carros ou por transporte coletivo. Também se alimentam de produtos naturais, comem muitas verduras, arroz branco e peixes. Respeitam sua ancestralidade. 

Oram diariamente em seus altares familiares. Sentem gratidão e prazer na existência. Sentem vontade de viver, dar continuidade à vida que receberam de seus pais, e assim encontram razões para suas vidas nas coisas simples da rotina de trabalhar, cuidar da natureza, manter relações de amizade, encontrar tempo para o lazer e para os encontros familiares. 

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Você já procurou alguma razão especial para a sua vida? Algum propósito? Algo estimulante? Você sente energia vital ao despertar? Vontade de descobrir o que poderá aprender hoje ou o que poderá fazer de benéfico este dia?  

Entre várias sugestões sobre desenvolver Ikigai, está a de ser útil ao mundo, escolher um trabalho, uma atividade para estar com outras pessoas, atender ao público, quer seja na saúde, na educação, na prestação de serviços, na segurança, no afeto, no cuidado. Auxiliar outras pessoas em sua busca por sentido, por propósito. Envolver-se com pessoas que criam ideias para melhorar o mundo e cuidar do planeta. Podem ser grupos pequenos, com ações locais e simples de hortas comunitárias e reciclagem, por exemplo.

No Zen Budismo, dizemos que quem desperta se torna um militante pelas causas da equidade social e respeito ambiental. Mestre Dogen Zenji Sama, fundador da ordem Zen Soto no Japão, nasceu no dia 26 de janeiro de 1200. Sua procura incessante pelo despertar da mente, pela iluminação, pela sabedoria, procurando mestres e filósofos em outros países, fez com que se empenhasse nas práticas severas do Zen. 

Já no século 13 ensinava seus discípulos a respeitar a natureza. Certa vez, à beira de um riacho límpido, retirou uma concha de água e bebeu a metade. A outra metade devolveu ao riacho como exemplo de respeito a água.

Construiu mosteiros, criou uma ordem religiosa no Japão que continua viva até hoje, com milhões de seguidores no mundo todo. Mestre Dogen considerava o Zazen, sentar-se em Zen, em meditação, como a forma mais eficaz de autoconhecimento. Como fazer com que todos pratiquem Zazen? Como fazer com que todos despertem e se tornem senhores e senhoras de si?

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Uma grande pianista argentina, Martha Argerich, com mais de 80 anos, foi entrevistada por sua filha, recentemente: "Mãe, por que você nunca se importou em aceitar prêmios pelos seu trabalho?". Martha respondeu: "Prêmios se referem ao passado, ao que já foi e não sou mais. Vida é viver o presente".

Lembrei-me de um amigo que conheci em Los Angeles há mais de 40 anos. Quando perguntavam a ele qual a razão e sentido de viver, Walter Sheetz, de 86 anos, singelamente respondia: "O sentido da vida é viver".

Mãos em prece


26/01/2024 - 09h00min
Martha Medeiros

Não gosto nem de festa surpresa, imagine de emboscadas ambientais 

Essa é uma história de terror com final feliz. Mas até quando? Claudia foi meu segundo par de olhos, meu segundo par de braços.

Estávamos eu e Claudia Tajes, minha vizinha de página, sentadas na plateia do teatro Renascença, em Porto Alegre, assistindo a Sangue e Pudins, do Luciano Alabarse. Do meio para o fim do espetáculo, o barulho da chuva se intensificou de forma a nos iludir que era um recurso cênico – parecia que em instantes a água deslizaria pelas paredes e entre as poltronas. Faltando 10 minutos para acabar, a iluminação se foi e os atores terminaram a encenação no escuro.

Saímos correndo, nem cumprimentamos Luciano. O saguão do teatro era uma piscina – chovia lá dentro. Eu só queria pegar meu carro no estacionamento e voar para casa, minha filha estava sozinha, sem luz, e já havia mandado mensagens preocupantes sobre o vento e a chuva anormais. Outros motoristas que estavam na plateia não se animaram a atravessar o lago que havia se formado na rua, eu dei a partida e fui em frente com o meu otimismo. 

Cem metros adiante, tudo parado. Congestionamento e blecaute, só enxergávamos os faróis de outros carros igualmente encurralados. Sinaleiras apagadas. O Arroio Dilúvio, que margeia a Avenida Ipiranga, apresentava um volume crescente, quase invadindo o asfalto. Precisávamos sair dali.

Claudia foi meu segundo par de olhos, meu segundo par de braços. Eu, sozinha atrás do volante, não dava conta. Abrimos as janelas, pedimos passagem, mas era difícil contar com a boa vontade de quem também estava em apuros. As dúvidas transbordavam: seguimos reto? Dobramos? Por fim, alcançamos a Av. Princesa Isabel e, claro, muita água na pista nos aguardava.

Nunca senti tanto medo. Minha boca secou. Sabe aquela pessoa que reage com calma na hora do pânico? Não sou eu. Fico apatetada, volto a ser criança, quero um pai em meio a uma tempestade. Mas estávamos órfãs naquela terça à noite, enquanto árvores desabavam ao nosso redor, arrastando os fios de energia. 

A cada vez que atravessava um alagamento, com água batendo na porta, eu implorava ao carro: não apaga, não apaga. Quando passamos em frente a um hotel, nem foi preciso entrar em acordo. Era uma ilha. Claudia e eu dividimos a mesma cama, ainda no escuro, depois de consumirmos todas as garrafinhas d´água do frigobar. Às seis da manhã, voltamos cada uma para sua casa.

Essa é uma história de terror com final feliz. Mas até quando? A natureza anda mal-humorada, com razão. Vai acontecer de novo. Em Porto Alegre, Rio, BH, São Paulo, Belém. Que os governantes sejam previdentes e tomem decisões que beneficiem o bem-estar da população, em vez de privilegiar terceiros, lucros ou eleições. E que eu aprenda a desenvolver meu sangue frio. Não gosto nem de festa surpresa, imagine de emboscadas ambientais. Nunca estou preparada. Alguém está?


27 DE JANEIRO DE 2024
CARPINEJAR

O trote do marido

Amor é paciência. Na ausência dela, nenhum obstáculo será superado, nenhuma adversidade será transposta, nenhuma diferença será acolhida. Você deve respirar antes de discutir, deve pensar antes de opinar, deve rezar antes de explodir. A contagem mental é aliada das palavras.

Só que a paciência acaba quando o outro mete a sogra no meio. Cada um tem a responsabilidade de cuidar dos problemas e idiossincrasias da sua própria família. Uma das cenas mais irritantes da vida de casal é marido que não sabe se despedir da sua mãe no celular e repassa, de repente, a ligação para a esposa.

Atende a mãe, mas não termina o serviço. No meio do blá-blá-blá, mostra-se ansioso, aflito, culpado. Teme pela duração do interrogatório. Não consegue pôr um ponto final na conversa. Anda desesperadamente pela casa, do quarto à sala, da cozinha à lavanderia, procurando uma saída. E a porta de emergência é sempre a sua mulher, que está por perto. Ele a percebe como uma muleta para se apoiar na maratona da manhã.

Não aprendeu até hoje a dizer "tchau" à mãe. Incompetente para cortar o assunto, constrangido para alertar que precisa sair e trabalhar, ele larga a bomba em quem está ao seu lado.

Com pura malandragem, mente para a esposa que a sua mãe deseja falar com ela e lhe passa a sogra. Nem pergunta se ela está disponível ou com boa vontade de comunicação naquela hora: passa adiante a sogra. As duas não entendem direito o que aconteceu, paraquedistas empurradas do avião, e são obrigadas a inventar uma ponte, uma conexão, um ponto em comum, um jeito de pousar e não se arrebentar na queda.

Ele terceiriza a encrenca, as confissões, o relatório de incompreensões, a coleção de sintomas de algum mal-estar enigmático. A impressão é que emprestou a mãe por um momento, porém ele deu a mãe de presente. Sequer vendeu a mãe, ele doou a mãe.

Desavisada, a esposa tem que atuar como mediadora, tradutora, como se não tivesse também as suas ocupações. É um trote premeditado. No começo do papo, jura que é apenas um breve momento de cumprimento, de perguntar como está, de dar um recado, mas o marido some da vista, toma uma ducha e jamais pega o aparelho de volta.

Se a mãe alugava os ouvidos do filho, compra os ouvidos da nora, que se vê obrigada a ser educada e simpática no lugar do marmanjo. É a maior sacanagem que pode existir no relacionamento. Para aumentar a raiva, o marido pergunta, depois de um longo período desaparecido: - O que ela queria?

Era o que faltava ainda pedir um resumo, uma sinopse para a sua canastrice.

CARPINEJAR

27 DE JANEIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

VIVENDO E APRENDENDO

Existem velhos refrões que, em qualquer idioma, expressam verdades incontestáveis, cuja importância sequer notamos ou reconhecemos. "Vivendo e aprendendo" é um deles e, agora, ressurge na memória em função de dois episódios recentes que mostram a grandeza da solidariedade.

O primeiro é a ponte construída no pequeno município de Nova Roma. Desatendidos pelos governantes, os habitantes substituíram a inação governamental pela solidariedade, e cada um deles doou algo para construir a ponte de ferro que tirou a cidade do isolamento.

Houve grandes e pequenas doações. Alguns aportaram milhares de reais, ao lado de outros que podiam ajudar, apenas, com o que mais parecia uma soma de centavos. Cada qual com suas possibilidades, alcançaram as necessidades. Tudo convergia para um único fim e todos sentiam-se irmãos.

A pequena Nova Roma executou materialmente o Hino Rio-Grandense, não só na cantoria das solenidades. Tornou-se "modelo a toda Terra", na "ímpia e injusta guerra" imposta pelo individualismo da sociedade de consumo.

Outra materialização do "vivendo e aprendendo" foi o comportamento das pessoas na tempestade que assolou a Capital e outros pontos do Estado. Em algumas ruas em que as árvores caídas impediam o trânsito, os moradores retiraram os galhos um a um, antecipando-se ao trabalho da prefeitura.

Na falta de eletricidade (que se prolongou por vários dias em muitas regiões) outro episódio refletiu a visão de solidariedade. Dias após a tempestade, este jornal publicou na capa a foto de um homem exibindo o cartaz "queremos luz". No entanto, nele não se expressava um protesto individual. Era a solidariedade vivida como reivindicação.

Mas há também o oposto disso tudo. Ao privatizar a CEEE, o Estado deu longo prazo para a nova empresa enterrar a rede elétrica da Capital, sem considerar ciclones e tempestades devido à crise climática. Assim, a atual rede transformou-se num perigo, tal qual a tempestade, pois as árvores caídas podem colidir com os fios à mostra.

Horror maior, porém, foi a aparente fraude de milhões de reais perpetrada na Secretaria de Educação de Porto Alegre. O suposto roubo envolveria a ex-titular Sônia da Rosa e Xandão, presidente afastado do MDB da Capital.

Será um novo vivendo e aprendendo?

 FLÁVIO TAVARES