quarta-feira, 6 de dezembro de 2023



06 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

MUITO A APRENDER

Os resultados da primeira edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) após a pandemia eram bastantes aguardados exatamente por permitirem uma aferição mais completa do impacto da crise sanitária no ensino e uma comparação dos reflexos em cada país. Trata-se, afinal, do principal exame do gênero no mundo, feito por estudantes de 15 anos e coordenado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nas provas aplicadas no ano passado, participaram estudantes de 81 nações.

Os resultados do Brasil podem ser analisados por dois ângulos. De um lado, apesar de as notas dos alunos brasileiros terem ficado um pouco abaixo das obtidas em 2018, uma variação próxima da estabilidade, os países considerados ricos tiveram uma queda bem maior em relação ao recuo brasileiro. Não deixa de ser surpreendente, pelo grande tempo em que os estudantes do Brasil permanecerem longe das salas de aula, recebendo apenas conteúdos online. Nos membros da OCDE, em média, as escolas ficaram fechadas por 101 dias. No país, foram mais de 250.

Como a maioria dos países apresentou uma queda maior nas notas, o Brasil avançou nos rankings de matemática (65º) e de leitura (64º). Mas piorou a posição em ciências (74ª), área em que os estudantes nacionais têm a performance mais decepcionante. O fato de o desempenho brasileiro não ter caído tanto comparativamente, de qualquer forma, não pode ser motivo para minimizar o quadro grave do ensino local. O patamar de aprendizado permanece baixo, muito aquém das necessidades de um país que nas últimas décadas tem ficado para trás na corrida do crescimento econômico e precisa avançar muito em educação para se desenvolver, competir e diminuir a vexaminosa desigualdade social.

Mas a análise dos resultados também deixa margem para algumas ponderações com viés otimista. A presidente-executiva da organização Todos Pela Educação, Priscila Cruz, chega a cogitar que, se não fossem os impactos da pandemia, talvez o Brasil apresentasse avanço digno de nota, resultado de algumas políticas públicas implantadas nos últimos anos, como maior jornada escolar, atenção à alfabetização, criação da Base Nacional Comum Curricular e fortalecimento do Fundeb. 

Não pode ser esquecida também a grande mobilização da sociedade, junto a gestores estaduais e municipais, para mitigar os prejuízos à aprendizagem causados pela pandemia. São hipóteses que ainda terão de ser testadas e analisadas nas próximas edições do programa de avaliação, realizado a cada três anos.

Mesmo assim, o Pisa mostra outra vez que o Brasil segue bastante atrás no cotejo com a grande maioria das nações avaliadas. Basta lembrar que, em matemática, 73% dos alunos do país registraram desempenho abaixo do considerado o mínimo esperado, enquanto na média da OCDE o percentual cai para 31%. Em leitura, somente metade dos estudantes nacionais consegue identificar a ideia central de um texto, contra 74% entre os membros da OCDE. Há muito terreno para recuperar. 

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