A VEZ DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE
Relegado a uma espécie de segundo plano no país, o ensino profissionalizante parece ganhar um novo impulso. Pelo menos há um despertar em relação a sua importância, em especial pelo reconhecimento da função de ponte entre a escola e o mundo do trabalho. Formalmente conhecido como Educação Profissional e Tecnológica (EPT), a modalidade será essencial para o Brasil - e ainda mais para o Rio Grande do Sul - nos próximos anos devido à acelerada transição demográfica.
Com menos jovens chegando ao mercado de trabalho no futuro, será essencial que os profissionais das próximas décadas sejam mais produtivos. Ou seja, tenham mais conhecimentos e habilidades em uma série de tarefas bastante procuradas por empregadores, notadamente as relacionadas com os rápidos avanços tecnológicos. Hoje são recorrentes as lamentações de empresas que, a despeito de vagas abertas, não encontram recursos humanos com as capacidades exigidas. Esse é um hiato que o ensino técnico pode preencher, até por tradicionalmente ter estreita relação com companhias e conhecer as suas necessidades.
Reportagem de Isabella Sander publicada no caderno DOC da superedição de Zero Hora traz um panorama e as perspectivas para a EPT no Estado e comparações que mostram o quanto o Brasil tem de evoluir. Há boas intenções para elevar a oferta de vagas, distribuindo-as regionalmente e com cursos de acordo com as potencialidades locais, mas sabe-se que há uma distância entre a ambição e o que pode ser conseguido de fato.
Recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que, entre os seus países-membros, em média 37% dos jovens entre 15 e 24 anos estão matriculados em cursos profissionalizantes. No Brasil, o percentual é de apenas 11%. Há bastante espaço para avançar, o que contribuiria para a diminuição da desigualdade no país e o aumento da renda. Outro estudo, do Itaú Educação e Trabalho, mostrou que a taxa de desemprego dos que frequentaram o curso técnico era de 7,2%, contra 10,2% dos egressos do Ensino Médio tradicional.
O mesmo levantamento, publicado em julho, indica que a remuneração de quem passa por currículos profissionalizantes é 32% maior, na média. E os benefícios não param por aí. Se o número de vagas fosse dobrado, em uma década o PIB brasileiro poderia crescer 1,34% a mais. Se fosse triplicado, o ganho potencial de crescimento da economia seria de 2,35%.
O Rio Grande do Sul contabilizou, neste ano, 133,8 mil alunos matriculados em cursos técnicos nas redes federal, estadual, municipais e privadas. O Plano Nacional de Educação previa chegar a 315.891 até o próximo ano, uma meta inalcançável. Mas há, ao menos, a disposição de aumentar o alcance da modalidade.
A rede vinculada ao Estado, por sua vez, tem 28,6 mil alunos. No Plano Decenal da Educação Profissional e Tecnológica do Estado, o objetivo também é ambicioso: 115.917 matrículas até 2032. Mesmo que seja pouco provável alcançá-lo, deve-se reconhecer que é positivo ter esforços para ampliar o número de jovens cursando a EPT e fortalecer o capital humano do Rio Grande do Sul.
Em agosto, foi sancionada pela Presidência da República uma lei determinando a formulação de uma política nacional para a educação profissional técnica de nível médio. A legislação estabelece que a União, junto aos Estados, terá dois anos para formular e implementar as diretrizes para a modalidade. A principal orientação é estar sintonizado com as novas necessidades do mundo do trabalho.
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