02 DE DEZEMBRO DE 2023
MONJA COEN
O DESPERTAR
Neste sábado, 2 de dezembro, no mundo todo, em mosteiros, templos e centros de prática Zen, há pessoas sentadas em meditação, honrando a memória do Buda histórico.
Foi durante sete dias e sete noites de meditação silenciosa, sentado nas raízes de uma grande figueira indiana, há 2,6 mil anos, que o príncipe andarilho despertou: tornou-se o Buda.
Nesses dias e noites, foi tentado por tudo que pode dividir, perturbar e afastar os seres humanos da verdade e do caminho. As primeiras provocações foram sobre sua família, seu reino. Sidharta Gautama havia abandonado o palácio, o trono de príncipe sucessor, sua esposa, seu filho recém nascido.
Abandonou o que é difícil de abandonar. Tinha questões existenciais e espirituais que não o deixavam sossegar. Precisava entender nascimento, velhice, doença e morte. Por que nascemos? O que significa a vida? O que é a morte? Qual o sentido da existência? Qual o papel das várias deidades hinduístas?
Por isso fugira do conforto palaciano. Precisava encontrar respostas a tantas perguntas.
Permaneceu seis anos com mestres do Yoga. Em seguida, praticou as grandes restrições físicas: sem beber, sem comer, sem dormir. Ficou muito magro e fraco. Certo dia, foi se levantar e caiu. Então, decidiu sentar-se sob uma grande árvore e meditar. Foi quando surgiu uma pastora que se apiedou do jovem magérrimo e ofereceu arroz doce. Durante vários dias ela o veio visitar e o fortaleceu com alimentos.
Revigorado, se banhou no rio e se sentou em Zazen, em meditação silenciosa, determinado a não se levantar até que houvesse compreendido a verdade.
Foi quando surgiram várias provocações para afastá-lo de seu propósito. A primeira foi a vontade de voltar ao reino, reencontrar familiares, amigos, esposa, filho. Mas ele logo afastou esses pensamentos. Só voltaria depois de entender o que é difícil de ser entendido.
Surgiram imagens de mulheres lindas dançando à sua frente. Era outra provocação. Sexo, alimentos, almofadas confortáveis, escravos abanando e afastando insetos, bebidas, festas, danças, amigos. Entretanto, o nosso jovem se manteve silencioso, firme e forte, respirando conscientemente, e essas imagens desapareceram.
Em seguida, a terceira provocação foi a de sentimentos prejudiciais como raiva, medo, angústia, tristeza. Mas ele permaneceu inabalável.
Finalmente, o chefe das dificuldades, das divisões, das dualidades, o grande diabo, surgiu e o provocou: "Você é o Buda dos budas. O mais iluminado, o grande ser desperto, o superior de todos os humanos".
O jovem colocou a ponta de seus dedos da mão direita sobre a terra, levantou a mão esquerda e mostrou a palma para o intruso, dizendo: "A Terra é minha testemunha". Nesse instante, o diabo desapareceu. Era o amanhecer do oitavo dia. O jovem olhou para o céu, viu a estrela da manhã e exclamou: "Eu e a grande terra e todos os seres, juntos, simultaneamente, nos tornamos o caminho".
Nada o separava do todo. Percebia-se interligado a tudo e a todos, sem orgulho, sem ambição. Era o despertar de um sábio. E assim foi chamado de Buda, ser desperto.
Na semana de 1º a 8 de dezembro, celebramos essa experiência mística, sentando-nos em zazen, meditação silenciosa durante sete dias e sete noites. Passamos por semelhantes provocações da mente e, se nos mantivermos firmes e fortes, inabaláveis em nossa proposta de apenas sentar, permitiremos que todas as oscilações cessem e seremos capazes de adentrar o grande Uno. Tudo que é, foi e será é a natureza Buda se manifestando em incessante fluir. Desperte!
Mãos em prece
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