02 DE DEZEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES
AS AMEAÇAS À VIDA
Não são só tiro de revólver e fuzil ou facada que podem nos levar à morte. Além de doenças, há outras ameaças, aparentemente inofensivas (ou tidas até como "positivas"), mas que de fato são um assassino furtivo, que pula a janela para nos matar enquanto dormimos. Sem ruído, aí está a "Lei do Veneno", aprovada no Senado e que facilita o uso de agrotóxicos proibidos até nos países em que foram desenvolvidos.
Ainda mais lamentável - o projeto de lei foi aprovado em forma simbólica, sem discussão, e uniu governistas e opositores.
O irônico e até brutal é que tudo foi decidido às vésperas da reunião de cúpula sobre as mudanças climáticas em Dubai, nos Emirados Árabes. O uso de agrotóxicos, como o terrível Paraquat, é tão pernicioso à saúde humana e ao planeta quanto a crise climática. O Paraquat é um poderoso herbicida, que extermina macegas e plantas daninhas, e nisto age bem. Mas ao espalhar-se pelo ar, atinge de forma negativa e perigosa também plantas ou árvores a preservar e, mais do que tudo, o próprio ser humano.
Assim, nos transforma em vítimas potenciais a cada minuto das nossas vidas. De agora em diante, o Ibama e o Ministério da Saúde (através da Anvisa) não mais analisarão os agrotóxicos para neles apontar eventuais perigos à saúde. A concessão de licença caberá apenas ao Ministério da Agricultura, em tramitação rápida.
Como informou este jornal, o senador gaúcho Luís Carlos Heinze qualificou de "inferno" a demora em conceder licenças por parte do Ibama e da Anvisa. Pergunto, porém: não seria mais sério e sensato exterminar a inútil burocracia que, para enviar os pedidos de licença de uma escrivaninha a outra, exige "pareceres" e carimbos?
Ou isto não é também um inferno?
O Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos em todo o mundo. Ser "campeão" nesse ramo, porém, não é nenhum galardão. Ao contrário, mostra nosso desdém pela produção de alimentos saudáveis e, mais ainda, o desinteresse pela proteção da vida no planeta.
Ameaçadoras também são (ou foram) as chuvas que desabaram sobre o sul do Brasil nos últimos tempos. Piores do que os alagamentos nas cidades, foram os danos à agricultura. Calcula-se que, tão só aqui no Estado, as chuvas afetaram perto de 70% da produção de mel, dizimando abelhas, que, além de produtoras, são polinizadoras imprescindíveis.
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