sábado, 2 de dezembro de 2023


O sucesso da memória

Sucesso vem do exercício da memória. Quem tem memória vai longe na vida, conquista seu espaço, funda seu lugar no trabalho. Porque a maior parte dos nossos contatos é eventual, sem lastro, sem herança. Não exploramos os laços. Não investimos o nosso tempo para fixar amizades.

Conhecemos alguém e logo desconhecemos. Não questionamos seus valores para estabelecer afinidades. Nossa aproximação é funcional. Você tem um interesse, satisfaz e não aprofunda a curiosidade, não prolonga a conexão.

Somos atualmente cumpridores de tarefas. O interlocutor é um momento raso e superficial do nosso dia, jamais vira saudade ou posteridade. Uma vez atendidos, largamos de mão aquela existência.

Se estamos precisando de um apoio bancário, ligamos para uma agência, um gerente fornece as informações, salvamos seu número e somente voltamos a ele no próximo socorro. Não é assim?

Sem percebermos, nossa agenda no WhatsApp tornou-se um cemitério de anônimos, de quase conhecidos. Com quantos ali, entre centenas de nomes gravados no nosso telefone, estabelecemos uma conversa de verdade? Para realização pessoal, não basta sabermos somente o nome e o sobrenome daquele com quem estamos falando, também devemos guardar os nomes de seus familiares.

Posso cumprimentar o apresentador da Rádio Gaúcha Antonio (sem acento) Carlos Macedo, com o qual troco mensagens todas as manhãs, apenas perguntando como ele vai. É o básico. Ou posso ir além e cumprimentá-lo perguntando como está a dona Cristina, sua esposa, ou como estão seus filhos, Bibiana, Guilherme e Rafael.

Ao citar sua família, ele perceberá que eu me importo com ele. E realmente me importo. Ele me trata da mesma forma, preocupando-se com o bem-estar da minha esposa, Beatriz, ou dos meus filhos, Vicente e Mariana.

A questão é se dar o trabalho de fazer a lição de casa, entender quem é a pessoa, quais são seus afetos, qual a sua rede de prioridades.

Não deixar que seja um nome atalhado, digitado às pressas, uma ilha rodeada de neblina, que você não tem mais noção de onde encontrou, mais nenhuma referência para buscar com o espaçamento do convívio. É a confirmação na prática do famoso verso de Dante: "o amor move o sol e as mais altas estrelas". O amor familiar nos movimenta.

O meu sapateiro do bairro serve como exemplo. Ele se lembra de um por um de seus clientes e de exatamente o que cada um deixou para o conserto. Recorda o sapato e o que exigia de reparos. Dispensa os canhotos do recibo para localizar os pares nas estantes.

Chego à garagem de sua loja e ele já tem ciência do que fui buscar. Atento comigo e com quem eu amo, foi merecendo a minha confiança.

Antes que me esqueça, meu sapateiro é Ailton Braga, tem 66 anos, mas diz que está com 70, e seus filhos, já adultos, são Joyce e Guilherme. Intimidade é ir e voltar, ser conhecido e conhecer.

CARPINEJAR 

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