05 DE OUTUBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
PARA NÃO CAIR NO ESQUECIMENTO
As cicatrizes emocionais e a angústia com as perdas materiais ainda são flagrantes no Vale do Taquari. Ontem completaram-se 30 dias da tragédia climática que arrasou cidades e tirou a vida de ao menos 50 pessoas, e as reportagens produzidas pelos veículos da RBS mostram que, em meio ao esforço pela reconstrução, pairam dúvidas e aflições sobre a chegada de toda a ajuda prometida, em especial a financeira.
Os anúncios dos governos estadual e federal feitos nos primeiros dias após a enxurrada situam-se na casa dos bilhões de reais. O compromisso de que não faltaria dinheiro, em forma de auxílios e financiamentos, foi reiterado. Mas um olhar detalhado sobre cada item mostra que boa parte até agora tem andamento tímido ou sequer começou a chegar na ponta.
Um exemplo gritante é o do crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) direcionado para o reerguimento econômico dos municípios atingidos. Informou-se que seriam R$ 1 bilhão disponíveis, mas nenhuma operação ocorreu até agora devido a pendências na regulamentação do empréstimo pelos ministérios envolvidos. Por parte do Piratini, criou-se a iniciativa batizada de Volta por Cima, com a previsão de transferir R$ 25 milhões para famílias afetadas. Mas, por enquanto, somente R$ 2,7 milhões chegaram às mãos de beneficiários. É apenas uma amostra. Há outras iniciativas mais adiantadas, é verdade, cada uma com particularidades e dificuldades próprias para entregar o prometido.
Compreende-se que há uma burocracia necessária e incontornável. Trata-se, afinal, de dinheiro público, e os repasses exigem mecanismos de controle. Mesmo assim, a magnitude e a extensão da tragédia que levou famílias a perder grande parte do patrimônio construído anos a fio, além da destruição da infraestrutura, fazem por merecer uma dedicação especial das autoridades e dos operadores dos trâmites necessários à efetivação da ajuda. A impossibilidade de concretizar com rapidez todas as iniciativas anunciadas, por óbvio, também aflige os gestores públicos.
É natural que, com o passar das semanas e dos meses, mesmo eventos mais dramáticos acabem recebendo uma atenção menor. No caso da calamidade do Vale do Taquari, o reerguimento das cidades mais castigadas pela enxurrada recém começou. Neste primeiro momento, somando-se aos esforços do poder público, foi comovente o engajamento de milhares de voluntários, assim como o imenso número de doações para a população local.
Mas reconstruir moradias e recolocar de pé negócios, serviços básicos, propriedades rurais, comércios e indústrias, assim como reaver da forma possível as rotinas anteriores à tragédia, ainda levará um longo tempo. Para quem perdeu tudo e viu seus sonhos serem arrastados pela correnteza, o sentido de urgência é muito maior. O transcorrer dos dias, portanto, não deve arrefecer a pressão e a cobrança para que os compromissos firmados com a região sejam cumpridos.
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