04 DE OUTUBRO DE 2023
CARPINEJAR
O mais longo dos dias
Ninguém esperava que o Inter fosse tão longe. Ninguém acreditava que, de todas as competições disputadas, estaríamos perto da decisão mais cobiçada da América. São 90 minutos de uma final que não saboreávamos há 13 anos.
Nenhum comentarista esportivo apostou no nosso time na fase de grupos. Nenhum profeta. A equipe foi crescendo nas horas fatais, foi se azeitando, foi incorporando garra e foco. Não se viu uma transformação igual na nossa história. Trata-se de uma metamorfose sem precedentes.
Mudou-se o técnico. Escolheu-se alguém cardíaco e intenso, feito para tirar o impossível de cada atleta, gritando na beira do gramado como um louco, dando voltas no cachecol a ponto de se enforcar. El Chacho, Coudet, é um estrategista da paixão.
Veio um goleiro líder, Rochet, uruguaio da seleção, cumprindo as defesas mais difíceis com simplicidade, na coreografia da eficiência. Salvou a campanha incontáveis vezes, não tem como não colocá-lo ao lado de Clemer.
Veio Enner Valencia, um artilheiro destinado à Libertadores, fadado a grandes jogos, de sangue quente de Copa, de arrancadas febris e furiosas, como se todos atrás dele estivessem em câmera lenta.
Não podemos dizer que já fomos longe. Não podemos ter ataques de modéstia. Não podemos antecipar fracasso. Não podemos temer a secação. Não podemos nos apequenar no final do sonho. Não podemos nos desculpar por antecedência. Não podemos nos permitir duvidar por um instante sequer de nosso propósito.
Times favoritos nada são perto de um time unido. O que existe no Beira-Rio é uma liga indestrutível de gana, que só quem foi subestimado, desprezado, zombado é capaz de entender.
Inter saiu do inferno da descrença. Não é milionário como Palmeiras, não é poderoso como Flamengo, não tem uma constelação de estrelas como Fluminense, é uma academia latino-americana do povo. Por isso, acreditamos tanto: porque ele parece a nossa vida comum alcançando um momento extraordinário. É como se fôssemos justiçados pelo esforço.
Todo colorado está sem dormir, fingindo demência, fingindo trabalhar, fingindo cuidar de suas responsabilidades. É um nervosismo alegre, uma tensão estranha, uma véspera de memória, uma saudade antes da hora.
Que cada colorado abrace outro colorado. Que cada colorado seja gentil com outro colorado. Que cada colorado adote outro colorado. Não há mais diferenças entre nós. Não há mais classe social. Não há mais cadeiras para nos sentarmos - estaremos incansavelmente de pé.
Não há mais nada a não ser uma vitória. Uma vitória como nunca antes. Uma vitória de quem espera ansiosamente pela glória inesperada. Hoje não sou poeta, não sou jornalista, não sou marido, não sou pai, não sou filho, sou só torcedor. Minha família é o Inter.
Não nos belisque!
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