TEMPO NO RS
Rastro de destruição chega até a cemitério
Em Caará, lápides ficaram em ruínas após tempestade que arrastou veículos e derrubou árvores
Nem os mortos de Caará foram poupados pela fúria impiedosa da natureza. Conhecido como "berço das águas" por abrigar quatro arroios e dois rios, o município de 8 mil habitantes no Litoral Norte teve o cemitério Pedro Freiberger dilacerado pelo ciclone extatropical que varreu a faixa nordeste do RS na madrugada de sexta-feira.
O campo santo, até então um local bucólico a cerca de sete quilômetros do centro, está em ruínas. Os túmulos foram violados pela correnteza que transbordou do Rio dos Sinos. As lápides estão quebradas. As capelas, caídas, e os caixões, mergulhados numa água barrenta.
Em meio ao lamaçal que deixou os corredores intransitáveis, o vento e a chuva espalharam pesados blocos de mármore e frágeis flores de plástico. Sobre o que restou dos túmulos, havia galhos de árvores, pedaços de ferro, fotografias encharcadas e restos mortais.
Isolada pelas barreiras na estrada desde sexta-feira, a aposentada Luiza Ramos da Silveira, 64 anos, só conseguiu sair de casa na tarde de domingo. A primeira parada foi no cemitério, para saber se estava tudo bem no descanso final dos pais, do marido e do filho.
- Que coisa horrível toda essa destruição. No túmulo dos meus pais, a capela caiu, se desmanchou. No meu marido e meu filho, está cheio de barro. Não tem nada mais triste que isso - desabafou.
Morando diante do cemitério, o motorista Rodrigo Meller, 43 anos, testemunhou a inundação. Segundo ele, a enchente no local superou três metros de altura. Quando o Rio dos Sinos começou a subir, por volta das 19h de sexta, ele correu para tirar do pátio os veículos da empresa de transporte da família. Mal conseguiu levar um ônibus, um micro-ônibus e uma van até um terreno elevado, a água tomou conta da rua.
- Os arroios todos transbordaram, levando tudo pela frente - lembra Rodrigo.
Estrada
O cenário é semelhante em toda a estrada Leopoldo Fofonka, que liga o Morro da Borússia, em Osório, até o centro de Caará. Nos trechos despovoados, praticamente não há vegetação em pé. Quando surgem os casarios no horizonte, os móveis estão na rua, as cercas viraram varais e os moradores tentam secar ou consertar o que um dia foi mobília e vestuário.
O motorista de aplicativo Anderson Geronimo nem sequer teve essa chance. A casa dele foi totalmente destruída. Ele e a mulher estavam na casa de parentes, em Santo Antônio da Patrulha, quando o tempo começou a virar. Por volta das 19h, ele foi até a residência ver se estava tudo bem e retornou para os familiares. Às 21h, telefonou para um vizinho pedindo que desligasse a energia elétrica.
- Eu disse a ele que não dava mais tempo. Estava tudo embaixo d?água - relata o vizinho.
FÁBIO SCHAFFNER
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