10 DE JUNHO DE 2023
BRUNA LOMBARDI
A BUSCA
Desde sempre na vida o meu desejo era descobrir as Leis do Universo. Eu usava exatamente essa expressão, acreditava que existiam leis, princípios no universo que regiam tudo. E que uma vez descobertos facilitariam enormemente a complexa arte de viver.
Eu era maravilhada diante do mistério. E continuo sendo.
Sabia que não ia ser uma cientista pela minha pouca paciência com os números. Mas era fascinada pelas teorias. Achava que os números só vinham depois, para validar essas grandes ideias, que seriam provadas com a precisão da matemática.
Eu queria descobrir, mesmo que eu nunca pudesse provar para ninguém. E nem falar para alguém, já que nenhuma das minhas amigas tinha o menor interesse no assunto. Isso era só meu, pessoal. Seria minha orientação no caos do mundo, me ajudaria a escolher quando confusa. Isso, que eu nem sabia o que era, seria meu Norte.
Passei a vida toda desde a adolescência questionando coisas. E comecei cedo. Lembro que na escola, na época da Primeira Comunhão, tivemos um padre que nos prepararia dando temporariamente aulas de religião. E veio aquele senhor de batina preta com resquícios de caspa e um leve sotaque italiano, que na primeira aula tentou explicar o nascimento de Jesus e a concepção de Maria. Tema polêmico que me levou a levantar a mão várias vezes para fazer uma série de perguntas, porque eu sinceramente, na minha tenra idade, queria entender.
Acho que não demorou muito para ele ficar de saco cheio e dizer quase ríspido que religião é uma coisa em que se acredita ou não. E ponto final. Não se fica fazendo tantas perguntas. Minha intenção não era irritar o padre, eu tinha dúvidas reais mas percebi que era melhor ficar quieta.
Na aula seguinte, ele começou dizendo que se alguém tivesse outra religião poderia sair da classe. Vi ali uma oportunidade de ir para o recreio e ter uma hora livre só para mim. Mesmo sendo de uma família católica, levantei e saí. Com receio de que ele me perguntasse de que religião eu era, porque eu não conhecia nenhuma outra naquele momento.
E assim não fiz a Primeira Comunhão. Aos sete anos de idade, desafiei a Santa Igreja Católica. No período das Trevas, eu seria condenada pela Inquisição.
Mas meus pais eram liberais e não davam muita importância às convenções. Eu mais tarde em várias ocasiões tentei me reconciliar com alguns dogmas e fiquei amiga de vários padres.
E continuei minha busca, conversando com intelectuais, lendo livros complexos, estudando religiões, alquimias e filosofias que me trouxessem alguma luz. Visitei ruínas, templos e museus acreditando que a magia e o mistério da Antiguidade pudessem me revelar alguma coisa.
Talvez nossos ancestrais tivessem se conectado com um poder maior. Via símbolos, ideogramas, insígnias e tentava compreender significados ocultos. Eu me sentia atraída por alguns como se fosse uma espécie de reconhecimento.
Só o tempo revela as Leis do Universo, e elas são simples. Aos poucos se mostram claras e a gente descobre que estavam ali o tempo todo, mas nós ainda não estávamos prontos.
Esse ofício leva a vida inteira.
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