sábado, 10 de junho de 2023


10 DE JUNHO DE 2023
NO ATAQUE

O ÚLTIMO DOS MOICANOS

novak djokovic é o remanescente de uma geração genial, que contou com roger federer e rafael nadal, já aposentados

No final do ano passado, Roger Federer se despediu do tênis, e a cena dele de mãos dadas com Rafael Nadal, os dois chorando juntos de saudade dos confrontos lendários que não voltam mais comoveu até o mais frio dos psicopatas. Meses depois, o touro miura anunciou aposentadoria. Será no ano que vem, se o corpo castigado pelo esforço físico descomunal que sempre o marcou não antecipar planos. No futebol, a Copa do Catar nos mostrou um CR7 reserva. Messi optou pelo esquálido Inter Miami, lanterna da MLS, pensando no futuro empresarial pós-carreira após a consagração do título mundial com a Argentina. Na NBA, LeBron James. O judoca francês Teddy Rinner, gigante invencível dos pesados, cogita deixar os tatames.

Isso sem falar em Tom Brady, que parte conhece como ex- marido da Gisele Bündchen. Ele se aposentou, voltou e agora largou a NFL de vez na condição de Pelé do futebol americano. Ah, e tem Lewis Hamilton, extraterrestre das pistas de corrida. O que esses atletas têm em comum, além de serem trintões, alguns quase quarentões? Tom tem 45; LeBron e Lewis, 38. São todos geniais. Não muitos bons, excelentes, craques ou extraclasses. Falo daquele nível técnico, físico e mental que várias vezes nos fez duvidar da condição humana, liberando conjecturas sobrenaturais em meio a tantas façanhas improváveis e contínuas. Uma página única na história do esporte está perto de terminar. Nunca se viu tantos gênios em ação juntos como na última década.

Só no tênis foram três esquartejando 90% dos torneios. Federer, Nadal e ele, Novak Djokovic, o último dos moicanos desta geração em várias modalidades. Ainda na ativa, Djoko fará a final de Roland Garros neste domingo contra o norueguês Casper Ruud. O sérvio despachou na semifinal o fenômeno espanhol Carlos Alcaraz, 20, que deve ocupar sozinho a prateleira mítica ocupada pelo trio no próximo ciclo. Se for campeão, Djoko terá conquistado o seu 23º Grand Slam, superando os 22 de Nadal, recorde que ele já poderia ter superado. Ao cometer o erro grave de não se vacinar contra covid, viu-se obrigado a abrir mão de alguns torneios, incluindo os mais importantes. Aqui, uma explicação que, aposto, você está se perguntando. Por que ele não quis se vacinar?

Rótulo

Djoko nunca esmiuçou a respeito, mas o motivo para ser contra a imunização não seria político. Vegano, ele é filosófica e radicalmente contra aceitar o ingresso de algo externo industrializado e químico no próprio corpo. Por isso rejeita o rótulo de antivacina. Há pessoas de esquerda que comungam dessa lógica. Incompreensível. Com ou sem ideologia, o fato é que se trata de um gênio. Aos 36 anos, esticou o auge físico com alimentação e sistemática de treinos espartanas. Djokovic é o último dos moicanos de uma geração de gênios da qual sentiremos saudade. No basquete, há um novo LeBron ou Steph Curry? Jamel "Ja" Morant, talvez? Não sei. No futebol, certo que não há alguém da estirpe extraterrestre de Messi ou CR7 no momento.

Vai ser duro ver gente normal em ação, até porque só lá na frente um novo talento poderá ser medido com cada um desses fenômenos, tal a longevidade em altíssimo nível alcançada por eles, traduzida em títulos e recordes. Tomara que eu não vire um daqueles chatos sempre prontos a dizer "ah, é que você não viu fulano", incomodado com aquele gol que não veio, a cesta de três ausente no último milésimo, o winner de backhand na linha que saiu ou o ippon com os corpos no ar que virou vitória de wazari ou por punição.

Por enquanto, neste fim de semana na França, ainda há Djokovic, o último moicano. E depois?

DIOGO OLIVIER

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