terça-feira, 6 de setembro de 2011



06 de setembro de 2011 | N° 16817
DAVID COIMBRA


O homem mais influente da História

O personagem mais influente da História da Humanidade talvez tenha sido Maomé. O que havia onde vivia Maomé, antes da vida de Maomé? Nada. A Península Arábica era habitada por tribos dispersas, formadas por nômades analfabetos, homens selvagens que vagavam pelo deserto quente bebendo leite de camelo, que acreditavam em um milheiro de deuses, que não se identificavam por qualquer unidade política, religiosa ou cultural.

Maomé os compreendia. Era analfabeto como eles, conhecia suas limitações e, sobretudo, suas possibilidades. Deu-lhes um fator de união: uma religião simples, que pouco exigia e muito prometia, porque o islamismo só pede cinco orações por dia e uma peregrinação à Meca por vida, e oferece em troca o Sétimo Céu com 72 virgens e vinho à vontade, sem ressaca no dia seguinte. Do que mais um homem precisa?

Mais: Maomé deu aos povos árabes uma razão por que existir, um objetivo de luta, que era a própria luta. Maomé reuniu as razões transcendentais do espírito às bastante materiais do corpo, e conquistou metade do planeta.

O que aconteceu com o mundo muçulmano seria impossível sem a energia e a inteligência de Maomé. Sem sua energia e inteligência, aliás, nem existiria mundo muçulmano.

Maomé foi um desses homens que era causa, não consequência. Assim são os grandes protagonistas da História. Eles levam às transformações, não são levados por elas. Sozinhos mudam a vida de milhares, talvez milhões de seus semelhantes.

Claro: um homem não consegue fazer nada isoladamente. Ele precisa se aproveitar da conjuntura, de um conjunto de condições favoráveis e da colaboração de outros que acreditam nele. Mas, sem ele, nada seria igual.

Alexandre Magno, Júlio César, Freud, Getúlio Vargas. Não são muitos. Tomando dois contemporâneos: qual a diferença entre Napoleão e Robespierre? A mesma que há entre Leandro Damião e André Lima.

Damião é causa; André Lima é consequência.

Ambos são altos, fortes, têm a chamada “presença de área”, ambos são finalizadores, mas André Lima depende de uma conjuminância de fatores para render bem. O time tem de estar ajustado, as jogadas hão de fluir, assim ele dará o acabamento.

Damião, não. Damião é outro caso. Com sua imposição, com sua iniciativa, com sua personalidade afirmativa ele supera os obstáculos mesmo quando está sozinho, quando não tem um grupo a apoiá-lo.

Damião faz acontecer; André Lima acontece.

Damião é Napoleão, André Lima é Robespierre.

O fato de André Lima ter voltado a marcar gols é um sintoma da melhora do time, da reorganização empreendida por Celso Roth. O time não melhorou porque André Lima voltou a fazer gols; André Lima voltou a fazer gols porque o time melhorou.

Damião é outra história. O time vence graças a Damião e deixa de vencer devido à sua ausência. Quando o time está mal, ele marca um gol; quando está bem, marca dois. Não se trata de uma regra, é evidente. Mas, em regra, é assim que se dá.

Damião não tem a técnica pura de um Ronaldinho, não tem a habilidade insinuante de um Neymar, mas também não tem medo. Ontem, na Seleção, ele mostrou. Damião sem medo é Damião de Seleção.

Roth sabe das coisas

Celso Roth é um homem cheio de qualidades. A principal delas: a inteligência. Como toda pessoa realmente inteligente, ele aprende, ele evolui. Nos últimos 14 anos, tempo em que milita nos grandes times do Brasil, Celso Roth aprendeu e evoluiu. Corrigiu muitos erros, aperfeiçoou outros tantos predicados.

Celso Roth é trabalhador, sabe montar um time de futebol como poucos, tem serenidade na hora ruim. Mas, na hora boa, se confunde. Volta e meia, se deixa embair pelas ilusões do sucesso. E se atrapalha.

Em pouco tempo, Celso Roth arrumou o time do Grêmio. Melhor: montou no Grêmio um verdadeiro time de futebol, com mecânica de jogo, com soluções. Se mantiver essa humildade, essa parcimônia, essa economia de opiniões polêmicas e ações estrondosas, fará campanha. Acredito que as pessoas possam melhorar. Acredito no Roth.

Diamantes da base

Saimon, Fernando e Mário Fernandes no Grêmio. Muriel, Elton e Damião no Inter.

A felicidade, quase sempre, custa pouco.

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