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sábado, 3 de setembro de 2011
03 de setembro de 2011 | N° 16814
DAVID COIMBRA
Chinês não come queijo
Há dois hábitos nossos, nós ocidentais cartesianos, que deixam os chineses perplexos, entre tantas perplexidades que lhes impingimos. São os seguintes:
1. O hábito de ingerir bebidas geladas.
2. O hábito de comer queijo.
Chineses não comem queijo. Vou repetir, que é grave: chineses não comem queijo! Quando estive na China, durante a Olimpíada de 2008, assombrei-me: como pode uma civilização milenar não comer queijo?
E não tomar bebidas geladas, como pode?
Nós, brasileiros, já sabemos desde sempre que os europeus bebem cerveja “fresca”, não gelada. Mas os chineses são radicais. Eles bebem água quente. Não é chá; é água mesmo, límpida, sem ornamentos. Quente.
Há um bilhão e meio de chineses no mundo. Muito chinês. Mas você dificilmente verá um deles bebendo um chope gelado e aperitivando com queijinho.
Na Olimpíada, perguntava a eles o porquê disso. Respondiam-me que o queijo os repugnava por ser muito gorduroso e que a água quente faz bem para a saúde. Uma pessoa que bebe água quente todos os dias evacua com regularidade e leva uma vida suave, juram os chineses.
Essas alegações me deixaram muito decepcionado com os chineses. Aquela cultura milenar, aquele conhecimento ancestral, e eles não compreendiam que, às vezes, o que não faz tão bem assim para o corpo pode ser um bálsamo para a alma.
Para você ver como experiência não traz necessariamente sabedoria. É por isso que, em certos momentos, é preciso recorrer aos jovens. Como agora. É o aproveitamento da gurizada que vai redimir Grêmio e Inter no Campeonato Nacional.
As feras à solta
O pequeno Arthur, que se transformaria no grande Schopenhauer, o homem que deu a Freud os fundamentos da filosofia psicanalítica, pois o pequeno Arthur viveu a infância em Dantzig. Essa cidade muito rica guardava seus tesouros em uma ilha que se situava nas proximidades da casa dos Schopenhauer. Durante o dia era grande a agitação naquela estreita porção de terra, homens trabalhando, recebendo cargas de mercadorias que lá seriam estocadas.
Mas à noite os portões da ilha eram fechados. Era proibido andar pelo lugar. A fim de reforçar a segurança e desestimular aventureiros, os zeladores dos armazéns, antes de se retirar, abriam jaulas de onde saíam enormes mastins. Qualquer pessoa que se arriscasse a pisar no local seria estraçalhada pelas feras assassinas.
Certa noite, durante uma festa, um violoncelista exagerou no vinho e anunciou aos convidados que entraria na ilha. Chamaram-no de louco, tentaram demovê-lo, mas o incauto estava decidido: invadiria a Ilha dos Armazéns. Foi o que fez. Tomou de um bote e remou até lá, enquanto os convidados observavam tudo da margem, inquietos.
Quando o músico pulou as grades de segurança, os mastins se lançaram sobre ele, rosnando, babosos, dentes à mostra. O homem, então, sacou de seu violoncelo e começou a tocar. E tão doces, tão envolventes foram as melodias que produziu seu arco, que os monstros se aquietaram, aninharam-se aos seus pés e quedaram-se a ouvi-lo, quietos e agradecidos.
Essa história causou impressão profunda em Schopenhauer. Adulto, ele se tornou um amante da música, a música tornou-se o maior consolo de sua alma torturada e decerto que o ajudou a fundar o sistema filosófico que o imortalizou.
A música, de fato, acalma as feras. Ou as excita. O ruído da torcida nos estádios, é isso que torna um time que joga em casa mais feroz do que o visitante. É disso que o Grêmio depende para superar suas fraquezas no Campeonato Nacional.
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