sexta-feira, 3 de junho de 2011


Jaime Cimenti

Os desajustes do início do século XXI

O ensaio intitulado O Mundo em Desajuste - quando nossas civilizações se esgotam, do pensador e escritor Amin Maalouf, são apresentadas as várias vertentes de desajuste do mundo atual: o intelectual, o financeiro, o econômico e o climático.

Amin escreveu, entre outros livros, Léon l´Africain, Samarcande e O rochedo de Tanis, este último detentor do prestigiado Prêmio Goncourt de 1993. Com a mesma desenvoltura que escreve seus romances, Amin apresenta ao leitor um diagnóstico rigoroso e humanista do mundo e de sua evolução e mostra o esgotamento simultâneo de duas civilizações que estão em confronto constante: a Ocidental e a Oriental.

Segundo ele, as consequências da política expansionista dos Estados Unidos conduziram à catástrofe, culminando na destruição do Iraque e no desencadeamento do ódio religioso e do desregramento financeiro e climático. Quanto às sociedades muçulmanas, não se trata de discutir as distorções existentes entre o texto original do Corão e sua leitura, mas a situação política, social e econômica em que elas se encontram.

O autor vai bem mais além do que apenas comentar a atualidade ou estabelecer alguns prognósticos. Ele analisa a situação recorrendo à história. Por exemplo: mostra porque o nacionalismo árabe fracassou com Nasser e como os erros dos líderes egípcios arruinaram a esperança de todo um povo.

Amin analisa igualmente a imigração e propõe políticas públicas que permitam que as populações de imigrantes possam viver sua dupla identidade a fim de compartilhar os valores do país que os acolheu e de preservar suas identidades culturais.

Para o escritor, que busca soluções para os conflitos, a humanidade chegou a este ponto mais por causa do esgotamento simultâneo de todas as nossas civilizações do que em razão de uma “guerra de civilizações”. O autor é contra o “barbarismo do mundo islâmico” e contra o “cinismo” do Ocidente, duas interpretações da história que andam por aí.

Amin propõe diálogo, reconciliação e paz, como, aliás, os heróis de seus romances. Vale dizer: a obra é tipo um grito de alerta para nosso mundo onde valores, referências e caminhos andam escassos. Difel, 304 páginas, R$ 39,00, tradução de Jorge Bastos, mdireto@record.com.br.

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