terça-feira, 7 de junho de 2011



07 de junho de 2011 | N° 16723
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Falou e disse

Já tratei do tema, mas é tão importante que torno a ele. As Páginas Amarelas da Veja de primeiro de junho trazem uma entrevista com Evanildo Bechara, doutor em Letras e um dos mais respeitados gramáticos da língua portuguesa.

É esse professor internacional, membro da Academia Brasileira de Letras, quem diz que a nossa norma culta reúne infinitamente mais qualidades e valores que o linguajar popular.

Num país em que o próprio Ministério da Educação distribuiu às escolas 500 mil livros com pérolas como “nós pega o peixe”, é bom recordar que quanto mais a norma culta é praticada, mais esse idioma e sua gramática evoluem. Como lembra Bechara, qualquer pessoa, dotada de mínima inteligência, sabe que precisa aprender a norma culta para almejar melhores oportunidades.

Mas o que houve no Brasil, para que se gastem milhões de reais para difundir uma forma indigente da inculta e bela com o dinheiro de nossos impostos?

O entrevistado ajuda a entender. O ensino de português – aponta ele – é deficiente nas escolas. Uma das razões recai sobre o evidente despreparo dos professores. É espantoso, mas, muitas vezes, antes de lecionarem a língua, eles não aprenderam o suficiente sobre a gramática. Além disso, não detêm uma cultura geral muito ampla nem tampouco continuam a ler os grandes autores, como faziam os antigos mestres.

Sou testemunha desse preparo. No velho Colégio Anchieta, os professores se empenhavam em nos passar os traços de uma cultura universal. Estudávamos, no I Clássico, cinco idiomas: português, latim, francês, espanhol e inglês.

Não é só: filosofia era uma disciplina obrigatória, assim como sociologia, história e geografia, sem esquecer química, física ou matemática. Isso nos dava o que então se chamava cosmovisão. Mas nada disso interferia no aprendizado da gramática.

Às vezes era difícil encarar umas estrofes de Camões. Mas nada nos intimidava. Ao contrário: aprendi a apreciar trechos de Os Lusíadas, como o episódio de Inês de Castro. Mas toda a minha inclinação ia para a Lírica, em determinados sonetos o ponto alto do idioma em que navego.

Evanildo Bechara sustenta que a língua culta reúne infinitamente mais qualidades e valores. É a única que consegue produzir e traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia, da literatura, das artes e das ciências. Falou e disse.

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