sábado, 4 de junho de 2011



05 de junho de 2011 | N° 16721
VERISSIMO


Sandra, Sandra...

Diga-se a favor da Cecilinha que ela esperou o marido acordar antes de fazer a pergunta. Não acordou o Tonho a tapa. Não tentou sufocá-lo com o travesseiro. Esperou. E quando o Tonho finalmente abriu os olhos, perguntou:

– Quem é a Sandra? O Tonho piscou. Olhou em volta como se tivesse acordado numa ilha exótica, sem reconhecer nada. Depois fixou-se no rosto da mulher como se ela fosse da fauna da ilha. E disse:

– Ahn? – Quem é a Sandra? – Quem?

– A Sandra. Você estava sonhando e disse o nome dela. Sandra, Sandra... Assim. Nesse tom. Quem é ela?

– E eu sei? – O sonho era seu. Você não se lembra de quem estava no seu sonho?

– Eu nem me lembro do sonho!

Cecilinha não se convenceu. Decidiu ficar acordada toda a noite enquanto o Tonho dormia, para flagrar outro “Sandra, Sandra...” e aí sim, acordar o Tonho a tapa para saber quem era. Dormiria de dia, quando o Tonho estivesse no trabalho.

À noite, manteria sua vigília. E claro que o Tonho também passou a dormir mal, com o risco de sonhar, dizer o nome “Sandra” e ser atacado pela mulher. Ninguém pode controlar os próprios sonhos. Ninguém escolhe o que vai dizer enquanto dorme.

De um ponto de vista puramente legal, ou mesmo ético, Tonho tinha toda a razão para se queixar da mulher. Aquilo não era justo. Um homem inconsciente é um homem indefeso.

Um homem dormindo não pode ser responsabilizado pelos seus atos, e muito menos pelo que diz, durante um sonho. Nada do que ele fala dormindo pode ser usado contra ele, pois ele estaria se autoincriminando sem, literalmente, saber o que diz.

Nenhum destes argumentos comoveu a Cecilinha. – Não me enrola. Quem é a Sandra?

– Eu não conheço nenhuma Sandra! – Quem é a mulher dos seus sonhos?

– Eu não sei! E a verdade é que o Tonho não sabia mesmo. Não conhecia nenhuma Sandra. Se sonhava com uma Sandra, esquecia o sonho. A Sandra podia muito bem acabar com o seu casamento sem nunca ter existido, sem aparecer nem em sonho. Sem nunca ter a cabeça dele entre seus seios para ele dizer “Sandra, Sandra...” daquele jeito, naquele tom.

Não adiantou ele inventar que Sandra era o nome de uma tia querida, morta havia anos. Segundo a Cecilinha, ninguém diria “Sandra, Sandra...” daquele jeito para uma tia. Não adiantou ele, uma noite, fingir que dormia e dizer “Cecilinha, Cecilinha...” no mesmo tom. Só serviu para ela chamá-lo de farsante e piorar o clima entre os dois.

E como era impossível continuar com aquele “Sandra, Sandra...” assombrando seu casamento – e como os dois andavam irritadiços com a falta de sono – resolveram se divorciar.

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