sábado, 4 de junho de 2011



04 de junho de 2011 | N° 16720
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Delavi

Jose Portela Delavi era o rei da molecagem. Estava sempre fazendo graça para fazer os amigos rirem. Às vezes até umas meio pesadas... Uma vez, a esposa dele saiu de manhã para trabalhar e disse para o Delavi: “Olha, eu vou deixar feijão no fogo.

Lá pelas onze horas tu bota um pouco de sal. Ah, controla a fervura, porque senão vai derramar tudo. E cuida a nossa cadelinha”. Eles não tinham filhos e a cadelinha em questão era os dengues do casal. E saiu. O Delavi procurou sal e não achou.

Foi então a um bolicho próximo comprar o ingrediente, deixando o feijão no fogo. Mas deixa que chegou lá e já encontrou uma roda de amigos bebericando. E já pegaram o Delavi e começaram a pedir versos e causos dos “cavalos”, assunto no qual ele era um mestre consumado. Lá pelas onze da manhã ele se lembrou do feijão fervendo e bateu na testa:

“Barbaridade! Me esqueci do feijão no fogo. A esta altura já pegou fogo em tudo e eu já perdi a minha casa. E já vou fazer uma canção para a tragédia.” E já improvisou:

Esqueci o fogão aceso
Pegou fogo a minha casinha.
Queimou tudo até meu quarto.
A minha sala e a cozinha
Porém o que mais lamento
Foi a minha cadelinha.
Morreu queimada no fogo
Como a mãe do Teixeirinha.

Claro que não tinha queimado nada – quando acabou o gás, o fogo simplesmente se apagou e a cadelinha estava lá, atada num pé de mesa como o Delavi havia deixado...

Seu grande companheiro de trovas e amigo íntimo era o trovador Luiz Muller, a quem ele chamava de “Mila”. Passaram anos trovando e brigando. De uma feita, o Delavi mencionou num verso que o “Mila” era cego e o adversário prontamente rebateu:

É verdade, eu não enxergo
Falaste bem, meu rapaz.
Mas conheço muita gente
Que enxerga até demas
Com os olhos deste tamanho
E a mulher passa pra trás...

Eu conheci o Jose Portela Delavi em 1956. O Delavi então era soldado e veio fardado para o programa apresentado na Rádio Farroupilha que sempre terminava com trova.

A turma do Darci era a dos “cavalos.” Todos se chamavam de cavalo. O Delavi foi um dos maiores trovadores que o Rio Grande do Sul já aplaudiu, da estirpe de um Gildo de Freitas, o que não é dizer pouco.

E agora se foi. Fico imaginando o bochincho que foi a chegada de Delavi lá em cima no galpão comandado por Darcy Fagundes e Luiz Menezes, o Miguelzinho Goelzer na gaita, onde estão trovando Gildo de Freitas e Teixeirinha...

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