quinta-feira, 2 de junho de 2011



02 de junho de 2011 | N° 16718
PAULO SANT’ANA


Paciência com a paciência

Eu hoje queria falar sobre a paciência.

É que nos últimos tempos tenho notado que me causam espinhoso incômodo algumas obrigações diárias.

Se tenho de usar remédios tópicos para os olhos, para os ouvidos, para a tendinite no braço, os medicamentos para o diabetes, todos os dias, em alguns casos duas vezes por dia, isso já me causa permanente incomodação.

Junte-se a isso ter de pagar contas nos bancos, dirigir o carro do serviço para casa e vice-versa, o vencimento mensal da prestação do carro e do carnê-leão. Esses compulsórios deveres por vezes me exasperam.

Então me queixo de tantos encargos. E fico achando que eu sou uma pessoa com muitos deveres.

Na verdade, os deveres que tenho agora talvez os tivesse tido há 40 anos e na época não me queixava.

Aí é que raciocinando melhor fui ver que não são os encargos meus que aumentaram: é a minha paciência que diminuiu.

O tempo passa, o corpo e a mente da gente se desgastam e com isso a virtude que consiste em suportar as dores, incômodos, infortúnios etc., sem queixas e com resignação, isto é, a paciência, foi se esgotando.

Mas, assim como se esgota a paciência, também o passar da vida pode nos levar ao aprimoramento da nossa paciência.

Tenho um amigo que faz escola, ele é o único da nossa confraria que não se incomoda com a demora do garçom em nos atender.

Indaguei-o sobre isso, e ele me respondeu com tranquilidade e um grande ensinamento: “Uma hora, o garçom virá”.

Como é intrínseco à vida esperar, a gente espera para tudo, para se divertir, para se alimentar, para namorar, para casar, para ter filho, para pagar a casa ou o carro. Então, faz-se necessária, mais que necessária, imprescindível, a paciência para viver.

Examinem bem atentamente na fila do banco as pessoas esperando: nitidamente, embora disfarcem, algumas pessoas têm menos paciência que outras.

Com certeza, há atos na vida que cometemos, num passado distante, do qual nos arrependemos amargamente hoje porque não tivemos paciência.

Faltou-nos, em muitos erros que cometemos na vida, aquela perseverança tranquila dos estoicos, dos que sabem que com mais cautela, estudo e rigor, teríamos feito muito melhores escolhas.

E, como a nossa vida muitas vezes não passa de uma sucessão de escolhas, tivéssemos tido paciência antes de muitas de nossas escolhas, seríamos hoje mais felizes.

A paciência, portanto, é transcendental.

Para deixar de fumar é preciso ter uma tonelada de paciência.

Para não ter rancor é necessária muita paciência.

Para chegar até uma separação de uma mulher ou de um marido é exigida uma paciência de Jó.

Quantas e quantas vezes, somos brindados com desaforos e ofensas só porque não tivemos paciência.

E, se tivermos paciência, depois de todas as agressões que sofremos, conseguimos nos livrar do jugo dos que nos agrediam.

É incrível, mas só alcança a liberdade quem tiver imensa paciência.

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