quinta-feira, 2 de junho de 2011



02 de junho de 2011 | N° 16718
CLAUDIA TAJES


Vaia em casa

Torcedor é bicho passional, irracional, até. Passa a noite numa fila para comprar ingresso, falta ao trabalho para ir atrás do time, gasta o que não tem, se entrega, se mata. Quem frequenta estádio aprende a admirar o torcedor, esse anônimo que chega cedo, torra no sol e encaranga no frio, canta o tempo todo, chora, grita, se abraça no primeiro que vê pela frente, não desiste nunca.

Quer dizer, quase nunca. Ultimamente, quando o torcedor cansa, naqueles jogos em que a retribuição por tanto amor não vem na forma de uma vitória, um golzinho ou, que seja, uma boa atuação, ele vaia o próprio time. Possível de ser explicado, difícil de ser entendido.

Sou gremista, e uma das forças da nossa torcida sempre foi o apoio ao time, mesmo nos piores momentos. Faz sentido. Se um jogador está mal ou se ninguém se encontra em campo, vaiar tende a piorar a situação. Só que, de uns tempos para cá, a ala dos corneteiros anda forte no estádios. Jogador que cair em desgraça, esse está perdido. Às vezes, basta o infeliz tocar na bola para ser vaiado. E se estiver um pouquinho mais inspirado, leva uma vaia retroativa.

A culpa é dele, é verdade, que cavou a própria cova com repetidas más atuações, mas precisa vaiar no meio do jogo? Se o resultado da partida não for bom, pode sobrar até para os craques do time. Mas esses não se abalam. Ao microfone das rádios, com a serenidade dos que têm talento, declaram entender a frustação do torcedor e prometem uma vitória na rodada seguinte.

Óbvio que, com o que ganham os jogadores, o mínimo que se espera é que trabalhem direito, obrigação de qualquer contratado, em qualquer cargo do mundo. Mas, se eles fracassarem, deixa para brigar depois dos noventa minutos. Vale cobrar macheza, pressionar a diretoria, exigir mudanças, mas sem vaiar o time.

Vaiar o time em campo é como esculachar a filha que não se saiu bem no trabalho. É chamar de burro o filho que foi mal em matemática. Xingar o marido que deu vexame na cama. Debochar da mãe porque o feijão dela queimou. Vaiar o próprio time é até falta de amor próprio. Aquelas cores, no fim das contas, representam o que a gente acredita.

Vaiar o próprio time não está com nada, e não importa se o time em questão é o Grêmio, o Inter ou o Ibis, aquele considerado o pior time do universo.

Quem ama não vaia.

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