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segunda-feira, 5 de abril de 2010
05 de abril de 2010 | N° 16296
KLEDIR RAMIL
Autobiografia – A Fase Romântica
Aos sete anos de idade pedi Julieta em casamento. E ela aceitou. Pelo menos em meus sonhos. Na vida real ela tinha um outro nome que eu nunca fiquei sabendo qual era. Julieta nunca me deu bola. Eu, um general de exército que abriu mão de glórias e condecorações de guerra pelo seu amor. As mulheres são mesmo assim, mas isso eu só iria descobrir muitos anos mais tarde.
Refém de uma paixão sem controle, por uma mulher de quem eu sabia apenas o nome fantasia, decidi me dedicar ao estudo da poesia. Para aplacar minha alma sensível, comecei a escrever versos de rima rica e consegui versejar “amor” e “flor” como nenhum poeta jamais havia conseguido. Aprendi a tocar “Quero Quero” no violão e decidi que era hora de fazer uma serenata para a minha amada.
Convidei meu irmão para me acompanhar ao violino e ele argumentou que uma canção que fala de um pássaro gritando no meio da noite não era apropriada para uma serenata. Me ensinou então a tocar “Balaio” e me convenceu que os versos “eu queria ser balaio, para andar dependurado na cintura de você” eram suficientemente românticos para enlouquecer a mulher amada.
Na noite combinada eu, meu irmão e João do Pandeiro, um amigo que tinha um instrumento de percussão cheio de tampinhas de refrigerante, pulamos a janela de casa e fugimos para fazer serenata.
O roteiro da apresentação começaria com a leitura do poema – conforme eu havia ensaiado na frente do espelho – e encerraria com Balaio, a três vozes. Era uma noite fria, de neblina forte e, fora os uivos de um lobo, a rua estava em absoluto silêncio. Bem, talvez fossem uivos de um cachorro. Chegando em frente ao castelo, quer dizer, sobrado, enchi o pulmão de ar e neblina gelada.
Olhei para o manuscrito que trazia na mão, iluminado pela luz amarela do poste e soltei o verbo: “Ó querida Julieta / linda como uma flor / te dedico esses versos / com todo o meu amor”. Quando ouvimos o barulho da janela abrindo no andar superior, meu irmão sorriu e piscou o olho como quem diz: “aí vem ela!”. Mas o que veio foi um balde de água fria.
Só no dia seguinte é que ficamos sabendo que minha Julieta tinha ido dormir na casa da avó. E chegamos à conclusão de que o pai dela não gostava muito de poesia. Na escola, todo mundo ficou sabendo. E o pior é que ficaram falando que o balde não era de água. É possível.
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