segunda-feira, 5 de abril de 2010



05 de abril de 2010 | N° 16296
L. F. VERISSIMO


Outro você

Me dizem que rola um texto na Internet com minha assinatura baixando o pau no “Big Brother Brasil”. Não fui eu que escrevi. Não poderia escrever nada sobre o “Big Brother Brasil”, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam.

O pouco que vi do programa, de passagem, zapeando entre canais, só me deixou perplexo: o que, afinal, atraia tanto as pessoas – além do voyeurismo natural da espécie – numa jaula de gente em exibição?

Falha minha, sem dúvida. Se prestasse mais atenção talvez descobrisse o valor sociológico que, como já ouvi dizerem, redime o programa e explica seu fascínio. Pode ser. Os “Big Brothers” e similares fazem sucesso no mundo todo. Provavelmente eu e os outros três ou quatro resistentes apenas não pegamos o espírito da coisa.

Também me dizem que, além de textos meus que nunca escrevi (como textos igualmente apócrifos do Jabor, da Martha Medeiros e até do Jorge Luís Borges) agora também frequento a Internet com um “tweeter”. Aviso: não tenho tuíter, não recebo tuíter, não sei o que é tuíter.

E desautorizo qualquer frase de tuíter atribuída a mim a não ser que ela seja absolutamente genial. Brincadeira, mas já fui obrigado a aceitar a autoria de mais de um texto apócrifo (e agradecer o elogio) para não causar desgosto, ou até revolta. Como a daquela senhora que reagiu com indignação quando eu inventei de dizer que um texto que ela lera não era meu:

– É sim.

–Não, eu acho que...

– É sim senhor!

Concordei que era, para não apanhar. O curioso, e o assustador, é que, em textos de outros com sua assinatura e em tuiters falsos, você passa a ter uma vida paralela dentro das fronteiras infinitas da Internet. É outro você, um fantasma eletrônico com opiniões próprias, muitas vezes antagônicas, sobre o qual você não tem nenhum controle,

– Olha, adorei o que você escreveu sobre o Big Brother. É isso aí!

– Não fui eu que...

– Foi sim!

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