sábado, 3 de abril de 2010



03 de abril de 2010 | N° 16294
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Nei

Para o poeta Nei Machado.

Estão todos no galpão.
São gaúchos, afinal.
Mateiam, conversam pouco,
Mas se dão bem, em geral.
Todos de bigode grande
E o lenço tradicional
Da velha cor encarnada
Da História meridional.
Todos tem a mesma idade
Mas uns parecem mais moços.
Com os lenços nos pescoços
São mais sérios ou mais alegres,
Tudo conforme a ocasião.
Este é doutor, por exemplo
E foi bom na profissão.
Este outro é homem de campo
– sabe as coisas como são.
Aquele outro é um gaiteiro
Duma gaita de botão,
Mas floreia uma apianada
Se duvidarem que não.
Este outro é um apaixonado,
Gosta de tocar violão
E de cantar afinado
Com bom gosto e emoção.
Este aqui é poeta. E que poeta!
(com ponto de exclamação...)
A poesia vem na hora,
Os versos lhe vem e vão
Sempre com o mesmo destino:
A mulher da sua paixão.
Este é um dizedor de graça,
Bom amigo e comilão,
Deus o livre se lhe pegam
Na panela do fogão...
Nasceu pra fazer amigos
Numa roda de galpão.
– seguro que é o mais gaudério.
Já este aqui é mais sério,
É homem de religião:
À mesa, na hora da boia,
Faz a gente se dar a mão
E fala direto com Deus
Com respeito e devoção.
Este aqui é um Mestre de truco
Nasceu para ser campeão
Sabe tudo das 40
Mas não faz maço – isso, não!
(não nasceu no Quaraim
- por lá, o que tem de ladrão!...)

Aqui estão todos eles
Bem assim como contei.
E tem mais: tem um segredo
Que ainda não revelei:
Todos tem o mesmo nome
De um francês, que foi um grande
Marechal de um grande rei,
Todos esses maragatos
Se chamam sempre de NEI.

MACHADO de aço forte
Bom de olho e bom de corte
Construindo a tradição.
Todos eles são um só
– poesia, gaita e violão.

Porto Alegre, 9 de março 2009.

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