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quinta-feira, 12 de março de 2009
12 de março de 2009
N° 15905 - PAULO SANT’ANA
Caradurismo senatorial
Até a mim, que entendo que a atividade parlamentar tem de ser bem remunerada e deva atingir também a remuneração dos assessores dos deputados e senadores, a mim, que não costumo ver minha atenção voltada para os gastos dos legislativos, causa espanto e revolta este escândalo de pagamento de horas extras a mais de 3 mil servidores do Senado Federal.
Pagaram a cada um dos 3.883 funcionários do Senado cerca de R$ 2.641 por trabalho extra no mês de janeiro, quando praticamente não funcionou aquela casa legislativa, absolutamente paralisada pelo recesso.
Tanto que, durante todo o mês de janeiro, eu, que sou telespectador permanente da TV Senado, não assisti a nenhuma sessão plenária daquela casa.
Não houve trabalho, portanto, no Senado em janeiro. E, se por acaso o houve por parte de poucos funcionários, certamente não havia ambiente nem atividade que comportasse o pagamento de hora extra, tal o ócio que dominava todas as salas do Senado.
Tenho certeza de que a maioria dos beneficiados por este pagamento escandaloso de horas extras tem cargos em comissão, o que por si só lhes retira o direito de receber horas extras, pelo menos no campo ético.
Mas pagar horas extras para quem sequer cumpriu o horário regulamentar do expediente é uma afronta à nação, um desaforo, um insulto aos eleitores e à sociedade.
Então, agora que estamos em março e o Senado está funcionando, apenas três dias por semana, como acontece em Brasília, na terça-feira, na quarta-feira e na quinta-feira, é evidente que serão pagas novamente as horas extras, continuamente, durante todo o ano.
Não basta que os funcionários do Senado sejam os bem melhor assalariados do país. Os salários por lá giram em torno de R$ 15 mil, R$ 20 mil, até R$ 30 mil.
Pois além dessa régia remuneração, muitas vezes suplantando até os ganhos dos próprios senadores, ainda nos vêm com essa de pagar horas extras para quem sequer trabalhou o horário normal de expediente.
Podem ter certeza de que, vasculhando esses 3.883 funcionários que receberam horas extras em janeiro, vão encontrar funcionários que estavam de férias.
Porque a ordem no Senado é esquartejar o erário, tirar dele tudo que se pode, mamar até a última gota da teta espúria maquiada de fonte de direitos salariais extorquidos pela força de leis e de normas administrativas que redundam em benesses e privilégios odiosos.
Isso que vivemos os albores da maior crise econômica dos últimos 80 anos.
E, justamente quando o serviço público tem a obrigação de se tornar austero em seus gastos, surge esta notícia aterradora do pagamento de horas extras para quem não fez jus a elas, até mesmo porque não havia trabalho e sim recesso.
Está demais. É desavergonhada a forma como assaltam os cofres públicos, cada vez mais sedentos de vantagens, os agentes públicos privilegiados.
O público assiste a tudo isso mais que contristado, desiludido, revoltado.
Vão ter de pôr um paradeiro nisso. A vergonheira atinge atualmente o seu nível máximo.
E este é apenas um escandalozinho perto dos outros que pontilham o cotidiano do poder.
Hora extra para quem não estava sequer trabalhando, isto é o máximo do despautério.
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