Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 2 de março de 2009
02 de março de 2009
N° 15895 - L.F. VERISSIMO
As cortinas, não
No seu primeiro discurso ao Congresso americano, que no fundo foi o seu verdadeiro discurso de posse, Barack Obama arrancou aplausos da plateia quando garantiu que o dinheiro dado aos bancos não será gasto pelos banqueiros em cortinas novas para seus escritórios.
Li na coluna do Paul Krugman que inventaram uma nova palavra para descrever o que pretendem fazer com bancos como o Citibank.
Em vez de nacionalizá-los - o que seria (horror!) socialismo - vão pré-reprivatizá-los. Depois de salvos serão devolvidos aos seus donos, presumivelmente ainda com as cortinas velhas. Assim a Crise, que já afetou tanta coisa desde que começou, chega também à decoração de interiores e à semântica.
GUERRA
No existe descrição mais precisa de gafe do que falar em corda em casa de enforcado. Imagine você conversando com a viúva do enforcado e usando, sem se dar conta, expressões como “com a corda toda”, ou, pior, “com a corda no pescoço”. (Já o ditado mais cínico e realista de todos - “pra baixo todo santo ajuda” - nos tempos da Inquisição poderia dar fogueira). Mas nenhum ditado é tão cruel quanto “em casa de pobre, todos gritam e ninguém tem razão”.
No caso do mundo em desenvolvimento, eufemismo para mundo duro, cabia uma variação ainda mais amarga: aqui todos gritavam e todos tinham razão. Em casa de pobre todas as queixas eram compreensíveis, todas as reivindicações eram justas, todos os protestos procediam e a única consequência de tanta sincronia era que ninguém se entendia.
Como hoje, com a Crise, está todo o mundo duro, temos a nova sensação de ver nossos adágios repetidos em países desenvolvidos, com a mesma resignação fatalista. Nos países que davam certo de repente não sabem o que deu errado, evita-se falar em corda na casa de, por exemplo, executivos do Citibank, todos concordam que a situação é grave mas ninguém sabe onde está a saída.
Mas não chore ainda por eles, Argentina. Quem conhece um pouco da história dos Estados Unidos sabe que a grande expansão americana no século 19 foi feita de falência fraudulenta em falência fraudulenta, com depressões purgativas seguidas de novos ciclos de calotes criativos, e que não é exagero dizer que a história do desenvolvimento deles é a história de uma guerra aberta entre capital produtivo e capital financeiro, amainada, mas não encerrada, com o crescimento das bolsas e do seu mito do capitalismo popular.
O que está acontecendo é apenas outra auto-purgação. Inédita nas suas dimensões e consequências - e envolvendo o mundo todo - mas apenas outra batalha.
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