sexta-feira, 30 de abril de 2010


Jaime Cimenti

Nova Iorque, absoluta

No ensaio clássico de 1948, Aqui está Nova York, o jornalista E.B. White, um dos grandes do século XX, e um dos pilares da lendária The New Yorker, escreveu que uma simples revoada de aviões poderia acabar rapidamente com a ilha da fantasia e que N.Y. concede a dádiva da solidão e da privacidade a todos que aspirem a prêmios tão inusitados. A deliciosa evocação do espírito da cidade segue viva, mais de sessenta anos depois.

Depois do atentado de 11 de Setembro, a cidade, seus habitantes e visitantes estão ainda mais sensíveis, mas a Big Apple segue sendo o centro do mundo ou, ao menos, um de seus dois ou três locais mais importantes, ao lado de Paris e Londres, para citar só dois. Fala-se em 30 ou 40 milhões de turistas por ano e US$ 30 bilhões ou US$ 40 bilhões através deles. Nova Iorque é superlativa.

Não tem prá ninguém: Picasso e Tim Burton no MoMa, saxofonistas solitários e anônimos nas esquinas, aluguéis de espaços para anúncios eletrônicos na Times Square por US$ 300 mil dólares por mês, JK no prédio do Hotel Plaza por US$ 1,5 milhão, seis camisetas por US$ 10 em lojas ou camelôs, comida no Macy´s por R$ 18,00 o quilo, preservativos e pastilhas em homenagem a Obama, pessoas de todos os mundos na Quinta Avenida, almoço na Trump Tower por R$ 40,00, vista deslumbrante do 65° andar do Rockfeller Center, Broadway com milhares de pessoas parecendo um chat de internet ao vivo, táxi com telas digitais e GPS e muito, muito mais.

“Onde estão as casas?”, pergunta uma menina. “Estão no 55°, 26° ou 10° andar”, responde o guia turístico. Nova Iorque, eterna, absoluta, todo mundo junto e sozinho, navegando de graça nos computadores da loja da Apple na Quinta. Todo mundo lá, querendo o melhor, comendo o sanduíche de pastrami do Woody Allen no Carnegie Dely.

Duas fatias de pão, mais ou menos meio quilo de pastrami, para duas ou três pessoas, preço razoável. Um sem-teto olha para mim, diz que sou parecido com o advogado dele, que tomou seu dinheiro e me pede algum.

Um loiro alto, saradão, só de cuecas, botas e chapéu de cowboy, brinca com um violão na Times Square e tira fotos com japonesas e outras. Dizem que fatura US$ 20 mil por mês.

Na Parade do domingo de Páscoa estão velhos, moços, crianças, roupas e chapéus novos e velhos, seres humanos de todos os tipos, democrática e nova-iorquinamente no meio da Quinta Avenida, revelando a eternidade e a diversidade da cidade que jamais vai descansar para sempre.

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