terça-feira, 20 de abril de 2010



20 de abril de 2010 | N° 16311
PAULO SANT’ANA


Debate

Recebo e transcrevo, com o fim de dar trânsito ao debate:

“Prezado Paulo Sant’Ana, recorro a ti que tantos leitores tens e que tanto peso exerces sobre a consciência e a opinião pública no RS.

NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA: Projeto Monumenta destrói dezenas de árvores antigas da Praça da Alfândega.

O Projeto Monumenta, da prefeitura de Porto Alegre, desenvolvido pelo Ministério da Cultura, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Unesco, visa supostamente a restituir (não sei com que vantagem) o visual da Praça da Alfândega ao seu original, do início do século 20, quando não se sabia ainda da importância das árvores no projeto urbano das cidades.

Para garantir essa discutível e dispensável ‘autenticidade’, o projeto cercou a praça (que sempre foi abandonada pela prefeitura) com um muro metálico de dois metros de altura e, assim escondida, dedicou-se a cortar sistematicamente mais de duas dezenas de árvores da praça, algumas centenárias.

O barulho execrável e ininterrupto das motosserras, por dias, e a saída regular de caminhões do espaço cercado e trancado, carregando troncos e mais troncos de largo diâmetro, assim como a vista de cima, dão uma ideia da insensata e escondida destruição que lá dentro acontece.

Moro ao lado da praça e bem acima. Vejo com angústia crescente as clareiras se somarem em grande velocidade, converso com os antigos frequentadores e transeuntes, artesãos e pequenos comerciantes ao redor, todos chocados e consternados com a velocidade e a extensão da destruição.

Todas as árvores (algumas com mais de 30 anos) de ambos os lados da Avenida Sepúlveda, entre o Margs e o Memorial, foram serradas e destruídas (sequer removidas a outro lugar).

Dentro da praça, igualmente, os tocos dos troncos e os buracos atestam a destruição sem precedentes das árvores lá plantadas, na contramão da história do urbanismo, em incompatibilidade com a qualidade de vida e o paisagismo esclarecido do século 21, numa atitude burra, irresponsável e injustificável!!!

O Projeto Monumenta dá verbas para a ‘melhoria de praças e ruas’ e eu gostaria de saber, o público desta cidade, os frequentadores dessa praça têm o direito de saber em que esse massacre insensato de árvores cuja copa garante ar puro e sombra versus a sujeira, a poluição e o calor massacrante do centro, onde a palavra ‘melhoria’ está prevista?

Que melhoria é essa que destrói em grande escala a própria coisa que torna a praça um bem aos seus frequentadores? Ou eles acham que as pessoas lá vão pelos postes de luz? Pelo calçamento?

Todas as cidades em locais mais instruídos dedicam-se a criar espaços verdes ou aumentar os existentes. Nossa prefeitura os destrói, agora sob a desculpa de que vai criar um ambiente mais autêntico.

Mas, se formos exigir autenticidade mesmo, que inundem aquela área, que antes pertencia ao rio. Ou que refaçam o espaço como era na chegada dos açorianos. Por que achar que o arbitrário autêntico é aquele em que não havia uma gestão esclarecida do espaço da praça?

Por que a prefeitura não torna o centro mais humano e seguro fazendo coisas óbvias e sensatas, como exigir que a pavimentação das calçadas permita que idosos e crianças possam andar sem tombar diariamente nos milhões de buracos das calçadas (só para citar uma melhoria necessária e ignorada pela prefeitura que decide investir o dinheiro destinado à melhoria da praça nessa sanha destruidora imperdoável)???

Conclamo as pessoas de bem, a mídia, aqueles com espírito responsável, aqueles com ética, bom senso e espírito público, a protestarem e a interditarem esse projeto insano que destrói um bem público necessário na suposta desculpa de recriar a estética arcaica e desnecessária às custas do bem comum. Obrigado, (as.) Marília Levacov (marilia@levacov.eng.br)”.

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