terça-feira, 27 de abril de 2010



7 de abril de 2010 | N° 16318
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Anos Dourados

No dia 21 de abril de 1960, repicaram os sinos de todas as igrejas de Viena. É que naquele dia nascia Brasília, a mais jovem capital do mundo. Cinquenta anos depois, uma sombra de corrupção e de escândalo paira sobre a belíssima cidade do Planalto Central, mas mesmo ela não pode apagar a aura de esplendor que a cerca.

Brasília não é um capítulo solitário de nossa História. É a culminação de uma soma de fatores sociológicos e políticos que levaram uma nação a compreender a própria grandeza. De repente, pela visão e a ousadia de um presidente da República, a civilização litorânea de tantos séculos venceu o continente das terras altas e além, para identificar sua própria magnitude.

Planalto e Amazônia deixavam de ser territórios, ou abandonados, ou interditos, para se converterem em parcelas de um país com a vocação do desenvolvimento.

Em paralelo, ocorriam extraordinárias mudanças no cotidiano da nação. Não era apenas uma metrópole que surgia no áspero Cerrado. Enquanto se erguiam palácios, templos, conjuntos funcionais, no outrora esquecido centro do Brasil, o país descobria seu destino.

Um grupo de jovens da Zona Sul do Rio de Janeiro, entre eles um gênio chamado Antônio Carlos Jobim, inventava a Bossa Nova, que logo iria conquistar o mundo. O Cinema Novo iluminava as telas com um modo inaugural de contar o homem e o universo. Éramos campeões mundiais do futebol à pesca submarina.

Grandes estradas rasgavam as selvas, como artérias de um corpo gigantesco que se redescobria. Hidrelétricas domavam rios, levando luz e força ao que antes era treva. Um enorme número de fábricas lançava nas ruas os produtos da jovem indústria automobilística nacional.

Pelas avenidas, podiam-se ver Romi-Isettas, Volkswagens, DKWs, Dauphines, Gordinis, Simca-Chambords, Aero-Willys, JKs, jipes e lambretas.

Tudo isso era o efeito Brasília. Quanto mais subiam as torres do Congresso, quanto mais Juscelino Kubitschek se fixava no Palácio da Alvorada, quanto mais o Brasil alargava o seu desenvolvimento, mais a cidade se afirmava como capital de todos os brasileiros. Vivi tudo isso. Sei do que falo. Conheci de perto os Anos Dourados.

Uma linda terça-feira pra você. Aproveite o dia.

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