quarta-feira, 14 de abril de 2010



14 de abril de 2010 | N° 16305
DIANA CORSO


Sexualidade colorida

Quem busca um profissional do sexo muitas vezes combina o que quer comprar, e isso faz parte da objetividade do negócio. Parece que isso encontrou uma expressão entre os mais jovens, através de pulseirinhas do sexo: adereços de plástico coloridos que, quando rompidos pelo garoto, com o consentimento da menina, indicam que ela estaria disposta a praticar com ele desde um abraço até um ato mais ousado, designado conforme o código de cores.

Eis a sexualidade, organizada conforme os códigos diretos da mercadoria, adaptada para tempos da vida cada vez mais precoces.

O que antes era brincar de médico, ou deslizes cometidos entre crianças, memórias fogosas de tempos confusos, hoje assume ares oficiais. Por exemplo, a invenção da “camisinha infantil”, criada e lançada na Suíça, destinada a pré-adolescentes de 12 a 14 anos. É possível ver na internet fotos de grupos de meninas dessa faixa etária com o objeto na mão, como se fossem provas materiais de sua ousadia.

Minha avó dizia que quanto mais se grita menos se acredita no que se diz. O mesmo vale para o sexo, onde o cachorro que mais late menos morde. A precocidade da sexualidade, especialmente entre aqueles que mal deixaram de ser crianças, ocorre mais na aparência do que na prática.

Esse é o caso dessas pulseirinhas, em geral usadas por meninas que não têm a mínima intenção de praticar, às vezes nem de entender, o que elas prometem.

Tomamos o rumo sem volta da liberalidade sexual e isso é ótimo, mas também pode ser preocupante, pois a infância, território que deveria permanecer livre do ato sexual, está sendo invadida pela mesma pressão de mostrar desempenho e performances nesse campo que sofrem os adultos.

A pedofilia é a face negra e nojenta dessa questão, mas existe uma pedofilia light, que consiste em criar uma cultura infantil com objetos, principalmente roupas, que identificam as crianças com uma sensualidade que seu corpo sequer comporta.

Temos pressa em certificar-nos de que nossos filhos serão competentes gozadores, e isso fará deles fêmeas e machos bem definidos. Fazemos isso porque a identidade sexual é hoje uma das poucas certezas que ainda temos e o orgasmo é expressão unívoca do sucesso que está ao alcance de todos os bolsos. Logo, por que não desejaríamos que se desse mostras do potencial para atingir tais metas o antes possível?

A sexualidade precoce é apenas o reflexo de que as imagens e o discurso ligados ao sexo são as formas mais diretas de enfrentar nossas inseguranças e inquietudes. Em resumo: gozo, logo existo.

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