quinta-feira, 15 de abril de 2010



15 de abril de 2010 | N° 16306
PAULO SANT’ANA


A responsabilidade do choque

Este rapaz que foi eletroplessado numa parada de ônibus da Avenida João Pessoa revela uma grave irresponsabilidade do poder público.

Não é possível que uma parada continue emitindo descargas elétricas por mais de um mês, várias pessoas fiquem reclamando à EPTC de que a parada esteja dando choque e finalmente um choque mata um rapaz.

Enquanto a EPTC, a CEEE e a Smov discutiam entre si de quem era a competência do problema, permanecia na parada a cadeira elétrica à espera de uma vítima.

É o fim da picada.

A CEEE jura que não recebeu nenhuma comunicação da EPTC de que a parada estava dando choque. A EPTC jura que fez três comunicações à CEEE de que a parada estava dando choque.

Tivesse a CEEE recebido as comunicações, teria agido? Tudo faz crer que não. Elas não se entendem sobre de quem é a competência do problema, isto é alarmante.

Morreu uma pessoa, vítima da omissão do poder público.

Há outras paradas de ônibus na cidade que estão dando choque. Houve várias reclamações de que a parada de ônibus da Avenida Protásio Alves, defronte ao Hospital de Clínicas, está dando choque. E ninguém toma providências.

Não cabe em qualquer plano de bom senso que uma parada de ônibus esteja dando choque, a população alerta, por reclamações, a EPTC, e não seja interditada radicalmente a parada de ônibus, não se permitindo que por qualquer forma as pessoas tenham acesso ao equipamento público.

A interdição tinha de ter sido total, até que daqui a alguns anos a CEEE, a EPTC e a Smov cheguem a um acordo sobre de quem é a responsabilidade sobre este trágico fato.

E a população de Porto Alegre como é que fica, depois que uma vida foi ceifada pela irresponsabilidade dos gestores públicos?

Como é que o público vai saber daqui por diante se a parada está dando choque ou não?

De uma coisa parece não haver dúvida: a EPTC tinha de ter interditado totalmente a parada de ônibus, além de manter plantão permanente, com o mínimo de um agente no local, até que a parada cessasse de dar choque, 24 horas por dia.

Não foi o que aconteceu. A descarga elétrica foi mantida lá por mais de 30 dias, como que se estivesse esperando a vez da primeira vítima.

Isso não tem explicação e esteve muito bem o apresentador Antônio Carlos Macedo no programa Chamada Geral ao rebater com veemência os argumentos frágeis do presidente da EPTC, que não sabia explicar como não foi feita interdição radical e definitiva do local que veio a servir de sepultura de um jovem indefeso.

O presidente da EPTC declara que, ao ser chamado ao local, o agente da empresa constatou que a voltagem do choque era de apenas 70 volts, o que não implicava risco!

Mas como? Quer dizer que um equipamento público instalado numa calçada de uma avenida de grande trânsito transmite choque elétrico de 70 volts e tudo fica por isto mesmo, durante mais de 30 dias? Mas não era um sinal de alerta que obrigava que toda a parada fosse imediata e radicalmente interditada?

Podia ter sido qualquer um porto-alegrense a vítima do choque. Pode vir a ser qualquer porto-alegrense, nos próximos dias, vítima de outro choque, em outra parada qualquer da cidade.

Enquanto isso, os órgãos responsáveis vão continuar o jogo de empurra fatal e bizarro de que fizeram parte nesta triste ocorrência: um atribuindo ao outro, lastimavelmente, a responsabilidade do choque.

E a opinião pública sem saber, aturdida, até agora, de quem é a responsabilidade do choque.

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