domingo, 25 de abril de 2010


CARLOS HEITOR CONY

O tamanho da alma

RIO DE JANEIRO - A primeira vez que ouvi falar em computador foi um alumbramento. Faz tempo, aí pelo final dos anos 50, quando o chamado "cérebro eletrônico" ocupava quarteirões e podia responder a qualquer pergunta ou resolver qualquer questão. Além de grandes,como os navios, eram infalíveis como os papas.

Até que, anos depois, fui dirigir uma revista que prometia horóscopos e regimes de emagrecimento pelo computador. Foi contratado um equipamento monstruoso, cheio de bobinas enormes.

A revista distribuía um cartão a ser perfurado pelos leitores com os dados individuais. Recebia em casa o resultado. O sucesso foi tal e tanto que logo fizemos grafologia por computador. O leitor mandava um texto manuscrito, o equipamento decifrava o caráter e anunciava o futuro do cara.

Até que um dia decidi testar a eficiência do nosso redator mais importante e lido, que era exatamente o cérebro eletrônico.

Pedi um regime para emagrecer, recebi uma relação de alimentos que deveria evitar. Quanto ao horóscopo, fui informado que receberia uma herança que ainda não recebi e faria uma viagem que ainda não fiz. Pior mesmo foi o conselho para evitar mulheres de escorpião e libra. Fui feliz com elas.

Quanto à grafologia, o computador declarou-me um caráter impoluto, uma força de vontade capaz de criar mundos e fundos e uma deficiência de glóbulos vermelhos ou brancos, não me lembro mais.

Na Antiguidade, ninguém se metia em nada de sério sem antes consultar as vísceras dos pássaros. Tenho uma amiga que acredita em cartas, sejam elas ciganas, do tarô ou do baralho comum, que a ajudam periodicamente a quebrar a cara em questões de amor e dinheiro...

De minha parte, acho que tudo funciona desde que, como queria o poeta, a alma não seja pequena.

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