sábado, 17 de abril de 2010



18 de abril de 2010 | N° 16309
PAULO SANT’ANA


Um achado macabro

Há uma semana, explodiu um carro na Barra da Tijuca. Estava na direção do veículo o filho do banqueiro de jogo do bicho Rogério Andrade, um dos herdeiros das bancas de jogo do célebre Castor de Andrade.

Diogo Andrade, o filho do banqueiro, tinha 17 anos, e seu pai estava no banco de carona do carro explodido. O pai teve apenas o rosto ferido, mas o filho restou com o corpo completamente dilacerado.

Um crime de grande repercussão.

Na ocasião, a avenida onde houve a explosão teve seu trânsito interrompido para as providências da perícia no carro durante várias horas.

Depois da perícia, as ferragens do carro foram recolhidas para um depósito da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis.

Dias depois do atentado criminoso, no pátio da delegacia, foi encontrado nas ferragens do carro um pé inteiro, parte do corpo do jovem assassinado. Um pé inteiro escapou incrivelmente da atenção dos peritos.

O médico-legista George Sanguinetti classificou de inadmissível a falha dos peritos envolvidos no exame do local. Ele atuou em casos como o do assassinato de Paulo César Farias (tesoureiro de Fernando Collor) e da menina Isabella Nardoni. Para o legista, a descoberta de parte do corpo no veículo após a perícia indica que o trabalho foi superficial:

– É um erro grosseiro e revela que a perícia do local praticamente não foi feita. Num caso de explosão de uma bomba num veículo, a ciência forense define como conduta correta um exame minucioso nos restos do carro, no prazo de 24 horas. Estou chocado com o primarismo desse trabalho.

Luiz Carlos da Silva Neto, advogado do pai da vítima, também não poupou críticas à perícia: segundo ele, a família foi informada anteontem sobre a descoberta do pé. O advogado entrou com recurso no Tribunal de Justiça, solicitando permissão para abrir a sepultura do jovem e enterrar o restante do corpo.

O advogado diz que é um fato grave e que a perícia foi superficial, acrescentando:

– Se não conseguiram identificar ou encontrar parte de um corpo, o que dizer do material encontrado na confecção da bomba?

Na missa de sétimo dia do jovem assassinado, quinta-feira passada, seu pai, o banqueiro de bicho Rogério Andrade, compareceu custodiado por 40 seguranças, um deles portando um fuzil.

Só no Rio de Janeiro acontece isso. Garanto que vários dos 40 seguranças eram policiais.

Mesmo que os restos mortais do jovem explodido tivessem se espalhado pelo carro, é óbvio que os peritos tinham de realizar a reconstituição das várias partes do cadáver.

Como é que deixaram escapar um pé inteiro? Isto é surrealista.

E que perícia é essa que tem de examinar toda a extensão das ferragens do carro e não encontra entre elas um pé inteiro?

Não tem explicação. E o que parecia ter sido uma perícia normal de local do crime fica agora marcada por um achado macabro, nas ferragens do carro, uma semana depois de ele ter sido recolhido ao depósito.

Dá para acreditar?

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