sexta-feira, 1 de dezembro de 2023


01 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

A PIORA DAMALHA GAÚCHA

Não é razoável que o Rio Grande do Sul, quarta maior economia do país, tenha rodovias em situação pior do que a média nacional. A tradicional pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada na quarta-feira, mostra que 72% da malha no Estado tem algum problema. São trechos considerados regulares, ruins ou péssimos. No país, o percentual insatisfatório cai para 67,5%. Na edição do ano passado, existia uma equivalência na situação das estradas gaúchas e brasileiras: 66% deixavam a desejar. Ou seja, por aqui a qualidade das vias piorou mais.

A localização geográfica do Rio Grande do Sul, no extremo meridional do país, impõe desafios adicionais em termos logísticos. Estradas em boas condições seriam um fator essencial para mitigar a desvantagem competitiva. Ainda mais devido à excessiva dependência do Estado do modal rodoviário. Cerca de 90% das mercadorias circulam pelas estradas. No país, cai para a casa dos 60%, conforme a CNT. Pelos cálculos da entidade, as más condições das pistas elevam o custo operacional do transporte no país em 32,7%. No Estado, sobe para 33,6%.

Além do lado econômico, há o aspecto da segurança dos usuários. Em julho, Zero Hora publicou levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) mostrando que, de janeiro a maio, 696 pessoas morreram em acidentes em vias gaúchas, número 2,8% acima do mesmo período do ano passado. Mesmo sem ser uma elevação expressiva, é preciso notar que houve uma inversão na tendência, com o aumento dos casos fatais a partir de 2021. Nos cinco anos anteriores, quatro registravam redução de óbitos em estradas e ruas do Estado.

A CNT avalia três variáveis: sinalização, geometria da via e pavimento. Chama atenção que a piora da avaliação das rodovias gaúchas ocorreu especialmente no quesito sinalização. É um fator basilar para a segurança dos motoristas e demais usuários. Do total da malha, 70,1% estava em condição regular, ruim ou péssima nesse ponto. No ano passado, o percentual era de 55%. A sinalização não é o mais dispendioso dos três itens. Deve se esperar que, de posse dos dados detalhados, os gestores possam tomar providências para melhorar esse aspecto, de grande importância para um trânsito seguro.

As vias em pior estado geral são as estaduais. Em outubro, após a coleta de dados da pesquisa, o governo gaúcho anunciou que o Plano de Investimentos em Rodovias 2023 subiria de R$ 256 milhões para R$ 796 milhões. Os gaúchos aguardam que os recursos, de fato, se traduzam em estradas melhores. Pelo lado do governo federal, intriga a dificuldade para aplicar a verba disponibilizada. Conforme a CNT, de R$ 752,8 milhões autorizados para serem gastos no Estado, até setembro apenas R$ 256,7 milhões, 34% do total, foram executados. No país, a média foi de 60%. Parte da explicação pode estar no período excessivamente chuvoso no território gaúcho.

Apesar da piora dos indicadores no levantamento da entidade, é justo lembrar que, no momento, há trechos importantes com obras de duplicação, tocadas por concessionárias e pelo poder público. São projetos que tendem a proporcionar um salto de qualidade na infraestrutura rodoviária do Rio Grande do Sul.

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