sábado, 8 de fevereiro de 2020


08 DE FEVEREIRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Uma ideia que merece fugir da polarização ambiental

Não há dúvidas de que o governo Jair Bolsonaro é pródigo em meter os pés pelas mãos nas questões ambientais. O projeto de lei para regulamentar a mineração e a construção de hidrelétricas em terras indígenas, por exemplo, tem tudo para não prosperar no Congresso e cair no esquecimento.

Em novembro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi taxativo ao afirmar que um projeto do gênero não tinha futuro na Casa pelo estrago ainda maior na imagem do Brasil no Exterior. Com o envio, Bolsonaro mostra a sua base que tentou cumprir uma promessa de campanha, mas o sistema não deixou. Fica com o discurso.

Mas há uma iniciativa que merece ser debatida sem preconceitos. A portaria do ICMBio - vinculado ao Ministério do Meio Ambiente - que autoriza a pesca esportiva em unidades de conservação ambiental não deve ser vista como incentivo à destruição da natureza. Pelo contrário.

A pesca esportiva consiste em apanhar o peixe e devolvê-lo à água para que continue crescendo e se reproduzindo, logo após o praticante, feliz da vida, registrar o feito em fotos ou vídeos. O interesse do pescador da modalidade é que o rio ou a lagoa tenha uma população de peixes abundante e com exemplares grandes. E que as matas ao redor fiquem intactas, mantendo o ambiente sadio. Por querer repetir a experiência, que também poderá ser usufruída pelas futuras gerações.

A modalidade cresce forte nos últimos anos no Pantanal, na Amazônia e na Argentina. Com a ideia, é possível até criar receitas para o custeio das unidades de conservação.

No Brasil, a pesca esportiva é alternativa de renda para as populações locais, que trabalham em pousadas ou são guias nas embarcações. No Rio Grande do Sul, inclusive, existem várias agências de viagens especializadas e fabricantes de material.

Claro que todo o cuidado é pouco. Ainda é preciso conhecer melhor os detalhes. A atividade nas unidades de preservação deve obedecer a um plano de manejo. É algo que, mesmo genericamente, está no texto do ICMBio. Pode-se até discutir se uma portaria é o meio adequado. Só não é possível colocar o assunto no mesmo balaio de iniciativas do governo que trazem grandes riscos ao ambiente. Nem ser contra apenas por supostamente tratar-se de uma vingança do presidente, multado por pesca irregular em Angra dos Reis (RJ), em 2012.

CAIO CIGANA - INTERINO

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