18 DE FEVEREIRO DE 2020
ESTELIONATO
Cuidado, novo golpe na praça
No início de fevereiro, um morador de Porto Alegre, de 69 anos, foi informado por telefone de que a esposa tinha R$ 137 mil a receber em três parcelas como forma de compensação pelo Plano Collor. Para ter acesso ao valor, precisava realizar depósito de R$ 1.498,80, para custear despesas com a documentação. Desconfiado, o idoso se aconselhou com a gerente do banco no qual tem conta. Descobriu que estava prestes a cair em um golpe. Assim como ele, outras pessoas são alvo desse tipo de crime.
Também pelo telefone, uma idosa de 78 anos foi informada que o marido, já falecido, tinha um valor a receber como forma de indenização pelo mesmo plano. A mulher não teve a mesma sorte. Acabou depositando R$ 1,5 mil em conta bancária aos estelionatários. Quando recebeu novo pedido para pagar mais R$ 5 mil, desconfiou de que havia algo errado. Mas, como já havia realizado o primeiro depósito, teve de arcar com o prejuízo.
Nos dois casos, os aposentados foram alvo de golpistas que fingem relação com ações movidas para ressarcir pessoas lesadas por planos econômicos. Fisgam a vítima com a promessa de que receberão valor alto e somem após conseguirem alguma quantia da pessoa que haviam entrado em contato. Fingem-se tanto de advogados quanto de representantes de órgãos que moveram ações coletivas.
Valores
No primeiro relato, o idoso atendeu por telefone um homem que identificava-se como "doutor Eduardo" e dizia ser membro do Conselho Nacional da Previdência. O golpista alegava que as ações haviam sido movidas por Estado e que o Rio Grande do Sul era o primeiro a ser contemplado. Entre as pessoas a receberem o depósito, conforme a narrativa do estelionatário, estava a esposa do idoso. Ele informou inclusive número de protocolo do processo.
- Ela não estava em casa no momento. Ele ficou conversando comigo. Eles tinham os dados dela: nome, telefone, nome da mãe. Isso vai te convencendo - conta o idoso.
A mulher teria três parcelas a serem ressarcidas de R$ 74,8 mil, R$ 32,6 mil e R$ 29,7 mil. Como forma de convencer a vítima a fazer o depósito imediato, o estelionatário alegou que o pagamento precisava ser feito no mesmo dia, para que a primeira parte fosse liberada imediatamente. Caso contrário, o valor poderia ser perdido. Em dúvida, o aposentado decidiu se aconselhar com a gerente do banco onde mantém conta. Foi informado que outros clientes haviam passado pela mesma situação e se tratava de golpe. Na mesma manhã, em nova ligação, uma mulher tentou confirmar o depósito. O idoso ironizou a golpista:
- Estive no cartório 171. Eles estão precisando falar com vocês - respondeu, referindo-se ao artigo do Código Penal que prevê pena de um a cinco anos de reclusão para o crime de estelionato, pouco antes de a mulher desligar o telefone irritada.
Investigação
A Polícia Civil não possui dados isolados desse tipo de crime, já que os golpes de maneira geral são registrados como estelionato. Segundo a titular da Delegacia do Idoso de Porto Alegre, delegada Cristiane Ramos, o delito possui variações sobre o motivo do dinheiro que a vítima teria a receber.
- Assim como alegam ser do Plano Collor, também ligam afirmam que a pessoa tem um valor de um processo judicial. Geralmente quem liga é uma pessoa que se expressa bem, dizendo que o idoso tem esse valor a receber, mas precisa dar contrapartida para pagar uma taxa ou custos com movimento do processo. Com a possibilidade de ganho maior, pela qual vai ter de pagar uma taxa pequena, o negócio parece interessante para a vítima - explica.
A investigação depende de quebra de sigilos, tanto telefônico como bancário. Em geral, os golpistas sacam o dinheiro rapidamente, o que dificulta a recuperação do valor. É comum que a origem da trapaça se dê em outro Estado, para onde a investigação é remetida. Por isso, Cristiane destaca a importância da prevenção para que o crime não se concretize.
- O golpista trabalha com isso. É especializado em passar a perna. No estelionato, a vítima entrega o bem porque foi enganada. Temos de trabalhar para que ela não seja mais enganada. Para que as pessoas fiquem alerta que dinheiro que vem muito fácil geralmente se deve desconfiar - diz a delegada.
LETICIA MENDES
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