14 DE FEVEREIRO DE 2020
ELÓI ZORZETTO INTERINO
Tudo se repete
Um dia desses, durante um intervalo, estava tomando um café no bar da RBS TV com o colega Giovani Grizotti. A conversa com ele é sempre muito interessante, produtiva e agradável. O Giovani é um dos jornalistas que mais admiro por seu histórico e por suas inúmeras qualidades, que o tornam um dos profissionais mais respeitados do país. Perguntei quais seriam nossas próximas pautas investigativas para o RBS Notícias. Sem hesitar me relacionou várias, fundamentadas em detalhes, com fontes, provas, depoimentos. Todas ligadas à corrupção, como a maioria publicada pelos colegas do nosso Grupo de Investigação da RBS (GDI).
Terminamos nosso café e o curto bate-papo nos questionando sobre as infinitas horas de trabalho, com investimento de tempo e recursos em denúncias e flagrantes de irregularidades, ano após ano. E fica a sensação de que tudo parece em vão, tudo se repete. Mudam os personagens, o endereço, o cargo. Aliás, algumas pessoas refazem os mesmos caminhos que levaram tantas outras a serem investigadas, denunciadas e condenadas com a certeza de que não serão descobertas. Tudo isso para conseguir alguma vantagem, mesmo que isso signifique tirar dinheiro de pessoas pobres, sofridas, sem qualquer recurso. O mais grave é que, muitas vezes, a prática se dá justamente com quem deveria fiscalizar e zelar pelo bem público.
Ao que parece, quanto mais lucrativa a corrupção, mais ela se propaga. E não ocorre somente em altos escalões. Quem reclama das grandes ilicitudes e pratica as pequenas é tão corrupto quanto. Só lhe falta a oportunidade. E quando a encontra, a tendência é de que faça um estrago muito grande.
O Brasil não é o único país com altos índices de corrupção. Existem muitos outros tão ou mais desonestos e que, ao que parece, pouco se importam com isso. Mas também temos um grande número de nações formadas por povos mais preocupados com a formação do caráter, a dignidade, a honra, o respeito e a educação.
Uma das mais recentes reportagens do Giovani mostrou que a maior parte dos crimes acontecidos nas grandes cidades do Rio Grande do Sul fica impune. Não é por má vontade da polícia. É por falta de estrutura. Se o Estado investisse melhor nas escolas, na formação de professores, na educação, talvez não precisasse de tanto reforço em delegacias, armamentos, viaturas e no próprio Judiciário.
Mas, afinal, quando e onde as pessoas começam a se corromper? Na família, na creche, no colégio, no trabalho? Com certeza, os pequenos seres que chegam às maternidades não nascem corrompidos. Em algum momento, alguém contribui para que eles façam suas escolhas.
E o jornalismo? Bem, o jornalismo sério tem uma função social importante: denunciar. Mesmo que nos cause indignação e, às vezes, nos pareça muito chato voltar a temas tão desagradáveis. Infelizmente, o Giovani e os colegas do nosso GDI ainda vão ter muito trabalho repetitivo.
*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 18/2
ELÓI ZORZETTO - INTERINO
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