25 DE FEVEREIRO DE 2020
DAVID COIMBRA
O Carnaval das Bailarinas do Faustão
Eu sigo as Bailarinas do Faustão. Não as persigo; sigo-as no Instagram. É relaxante. Porque, você sabe, as Bailarinas do Faustão são moças bonitas e estão sempre de bom humor. Você olha para aquelas fotos. Não há texto algum, não há sobre o que refletir ou debater. Elas ficam apenas paradas, fitando a câmera e sorrindo. Às vezes, encontram-se dentro de roupas sumárias, o que é ainda mais agradável, porque você pode lhes avaliar o bronzeado da pele e o tônus muscular. Mas, ainda que se apresentem pudicamente vestidas, são boas de olhar, porque parecem sempre tão felizes? É bom ver pessoas felizes.
Há outras mulheres que fazem parecido, postam fotos suas em momentos iluminados, e é o que basta para ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor para se viver. Gosto, em especial, dos vídeos de mulheres fazendo exercícios físicos. Eis um sucesso absoluto das redes. A mulher vai fazer abdominais e pede para alguém filmar. Ela fica ali, um, uf, dois, uf, três, uf, e sua às catadupas e vê-se que está se esforçando bastante. Eu, depois, olho o vídeo e calculo quantas calorias ela terá queimado e me alegro em saber que aquela barriga se tornará dura de pedra, apesar de macia como um glacê, e penso que o mundo é bom.
Bem, é óbvio que nem sempre essas fotos e vídeos são inspiradores. Tem um cara que, todos os dias, posta sua própria foto em plano americano. Não há informação alguma, é só o rosto dele mirando a lente do celular. Só. Nada mais. Todos os dias. Por que ele faz isso? Ele não é um Brad, nem nada, é só um cara normal. Mas ele publica seu semblante diariamente, como se aquilo interessasse a alguém. Me irrita um pouco.
Vídeos de ginástica também podem ser agastantes. Algumas pessoas que jamais poderiam ser escolhidas pelo Faustão para dançar na TV aos domingos insistem em postar filmes de seus exercícios físicos. Suponho que elas fazem isso para demonstrar como estão empenhadas em se embelezar. Olho e penso: não vai adiantar.
Mas, tudo bem, sejamos tolerantes. Não sejamos como os agressores profissionais que infestam as redes, essas pessoas estranhas que acham que odiar os outros é inteligente.
Eu até gostaria de postar uns vídeos meus fazendo polichinelo, para falar a verdade, mas não ando fazendo muito polichinelo ultimamente. Eis o meu drama. Que vídeo ou foto meus poderiam interessar às pessoas. Eu lendo? Comendo? Jogando xadrez? Tomando mate? Não é animado.
Descobri que não sou um protagonista das redes. A contemplação das minhas atividades não tornará a vida de ninguém mais leve e não ajudará a descomplicar o dia. Tenho de me limitar à posição subalterna de espectador. Sem problemas, cada um no seu papel. Agora vou ali dar uma olhada no Carnaval das Bailarinas do Faustão.
DAVID COIMBRA
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