15 DE FEVEREIRO DE 2020
CARPINEJAR
Invisíveis mudanças
As transformações pessoais não acontecem de repente, por mais que se deseje cumprir uma resolução de um dia para o outro.
O que realmente nos modifica é ser capaz da metamorfose em segredo, invisível, sem placa de reconhecimento, bônus e post nas redes sociais. Aguentar o tempo que ninguém notará qualquer diferença, seguir com a solidão do esforço, na ausência de estímulos externos, porque se quer, não porque se deseja impressionar alguém ou colher os louros do resultado.
O mais difícil é fazer não sendo visto, perder um quilo de cada vez, durante meses, e não os oito pretendidos de uma vez por todas em semanas, para não se incomodar mais com o assunto e festejar com uma foto de antes e de depois.
Os gramas doem, pela sua imprevisibilidade. Assim como foram conquistados de jeito penoso e vagaroso podem ser perdidos rapidamente. Não haverá empatia da família para ajudar com o regime ao lado, todos seguirão esnobando com os seus prazeres e excessos. Até para testar a sua resistência, encarnarão a fantasia de demônios oferecendo tentações e eufemismos.
O engajamento é sempre individual. Não adianta exigir companhia, álibis e parcerias para manter uma decisão.
Mudar significa enfrentar o mundo e suas engrenagens automáticas. Romper com um padrão de convivência. Sair mais cedo da mesa, abandonar a sobremesa, largar alegrias conhecidas e compensações habituais pelos sacrifícios do trabalho.
Mas não existe uma segunda opção senão passo a passo, palmo a palmo, grão a grão. O ponto de partida será impraticável quando só enxergarmos o ponto de chegada.
É cansativo, porém verdadeiro. Constrangedor, porém honesto.
A pequena mudança, quando levada a sério, mostra-se contagiosa, despertando grandes mudanças.
Aquele que não caminhava, ao vencer a primeira e angustiante fase de adaptação, onde não há incentivo, encontrará confiança para correr.
Suportou o desgosto da discrição para alcançar o amor-próprio, que não depende da opinião alheia. Deixa de buscar corresponder às expectativas para se desafiar. Sem perceber, estará participando de meia maratona, atravessando 21 quilômetros impensáveis. Daí descobre que tem potencial para exigir do fôlego o que julgava impossível, e se inscreverá em maratonas, com o dobro do percurso. Nunca mais vai parar, viajando o mundo para participar de seletivas e trocando experiências e macetes com os competidores para aumentar a performance. Primeiro, achava que não dava conta do espaço, agora já se preocupa em diminuir o tempo das provas.
O corpo se molda às intenções da alma, jamais o inverso. Estar feliz consigo mesmo, independentemente da aparência, é a única liberdade que podemos desfrutar nesta vida.
CARPINEJAR
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