segunda-feira, 7 de outubro de 2019



07 DE OUTUBRO DE 2019
PROGRAMA SOCIAL

"Parece pouco, mas representa tanto"

Desde que a crise se instalou no país, o Bolsa Família ficou estável ou caiu em nove dos 10 municípios mais ricos do Rio Grande do Sul. Gravataí, na Região Metropolitana, foi o único fora da curva. De 2013 para cá, o número de lares contemplados saltou de 6,3 mil para mais de 9,8 mil, aumento de 56%.

Nesse grupo em ascendência está Rejane Amaral, 51 anos. Desempregada, entrou para o cadastro há pouco mais de um ano. Recebe R$ 91 por mês, que "parece pouquinho", mas "representa tanto", segundo ela:

- É uma gota d?água quando se está morrendo de sede, sabe?

Rejane divide uma casa alugada, feita de alvenaria e madeira, com uma irmã e uma sobrinha. Dorme em um colchão na sala, que, durante o dia, acomoda em cima de um armário por causa da falta de espaço. Ex-servidora pública, a desempregada sofreu revés que a levou a recorrer à assistência.

- Sou cria da crise - resume.

Após pedir demissão do cargo público, se formou técnica em meio ambiente e partiu em um voo para Aracruz, município capixaba de 100 mil habitantes. No Espírito Santo, tinha a promessa de emprego na Sete Brasil, empresa criada para explorar a camada de pré-sal: em uma plataforma de petróleo, trabalharia 15 dias ininterruptos para outros 15 de folga.

Mas a empresa foi implicada na Operação Lava-Jato e o trabalho nunca apareceu. Após dois anos fazendo bicos de faxineira por lá, retornou a Gravataí para recomeçar. Sem renda, viu no programa um primeiro passo.

- Dizia: "meu Deus do céu, como posso estar recebendo o Bolsa Família?". Mas, ao mesmo tempo, dá uma ajuda para respirar em um momento que se está passando por dificuldade - comenta a mulher sorrindo, sem perder o bom humor.

Ao acompanhar o aumento da assistência em Gravataí, Rejane passou a representar um novo segmento do Bolsa Família. São pessoas que perderam tudo por causa da crise e que têm o pagamento como uma espécie de seguro-desemprego - benefício pago somente por cinco meses - durante a procura por uma oportunidade.

- Sem o benefício, hoje, muita gente não tem com o que viver - avalia a secretária-adjunta da Família, Cidadania e Assistência Social de Gravataí, Joice Michels.

Para além da recessão, a secretária menciona outra causa para o aumento dos pagamentos no município, relacionado à capilarização dos centros de atendimento às famílias. Havia somente um ponto para o cadastramento, no Centro, até que, em 2013, outros quatro foram inaugurados, em áreas periféricas.

Nenhum comentário: