29 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA
O Grêmio tem de desistir da Libertadores de 2020
Só há uma maneira de o Grêmio voltar a conquistar um título importante: dedicar-se com força e exclusividade ao Campeonato Brasileiro. Porque o Grêmio, já faz dois anos, deixou de ter um time copeiro, como seus torcedores gostavam de apregoar. Ao contrário, o Grêmio perde decisões sistematicamente. As que venceu, nesse período, nem venceu: empatou com Inter e Independiente, no Gauchão e na Recopa, e ganhou os títulos nos pênaltis.
É uma estranha mudança de personalidade, algo a ser investigado. Tempos atrás, o Grêmio era conhecido por se superar em situações-limite. Às vezes, possuía um time inferior ao adversário, mas, na hora de decidir, se agigantava, buscava forças de lugares recônditos e arrebatava vitórias pouco prováveis. Assim aconteceu nos dois Brasileiros que o clube conquistou: em 1981, o São Paulo era uma Seleção, e o Grêmio venceu até no Morumbi; em 1996, a Portuguesa havia feito 2 a 0 no primeiro jogo da final e, no segundo, o time de Luiz Felipe reverteu nos últimos minutos, quando tudo parecia perdido.
Houve outras vitórias tão difíceis quanto essas e pelo menos uma completamente inverossímil, a Batalha dos Aflitos. Eram times de qualidade, sim, não se vence sem qualidades, mas, mais do que tudo, times com têmpera de aço. Mas, agora, o Grêmio deixou de ser o time das vitórias impossíveis. Em decisões, ele é que se tornou a vítima das improbabilidades.
No ano passado, arrancou uma vitória do River Plate no Monumental de Núñez e saiu ganhando na segunda partida, na Arena. A lógica da velha mística gremista dizia que o time seguraria o resultado, ainda que sofrendo pressão do adversário. Não foi o que se deu. Faltando sete minutos para o fim, o time levou dois gols e o River se classificou diante de 50 mil gremistas perplexos.
Em 2019 foi ainda pior. Contra o Athletico, na Copa do Brasil, o Grêmio foi a Portuguesa de 1996: venceu por 2 a 0 no primeiro jogo e foi amassado no segundo, sofrendo a reversão do resultado quase que sem reação.
Finalmente, veio o revés diante do Flamengo, no Maracanã lotado, observado por, literalmente, meio mundo: um fiasco absoluto justamente em um dia de decisão, um daqueles dias que o velho Grêmio transformava em heroicos.
Três dias depois daquele vexame, livre da pressão de uma partida eliminatória, o Grêmio recuperou a naturalidade e fez 3 a 0 no Botafogo. Ou seja: o Grêmio tem futebol, mas não tem a fibra que o distinguia nos momentos críticos. Continuando assim, seria sensato evitar esses momentos críticos e apostar na normalidade do futebol bem jogado para vencer. Donde, torna-se necessário apostar no Campeonato Brasileiro, que pode ser conquistado por uma soma de vitórias em que o time é interessado e concentrado sem precisar realizar façanhas.
Aquele espírito bravo de Foguinho, Juarez, Danrlei, Dinho, De León e do próprio Renato foi trocado pelo espírito leve do futebol-bailarino. O que terá acontecido em menos de dois anos para que uma índole centenária fosse transformada? É uma pergunta complicada de responder.
Há outra: essa mudança, afinal, será positiva? O novo Grêmio, de jogo bonito e suave, vencerá mais do que o antigo, de jogo duro e pragmático?
Aí depende do desafio que escolher enfrentar. Por isso, a Libertadores, nesta hora, é não apenas dispensável: é inconveniente. Melhor investir na morna regularidade dos pontos corridos. Grêmio novo, estratégia nova: reservas nas Copas, titulares no Brasileirão.
DAVID COIMBRA
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