O jovem Törlessde Robert Musil
Considerado por muitos como um dos mais importantes escritores da literatura alemã do século XX, ao lado de Thomas Mann e Hermann Broch, o austríaco Robert Musil (1880-1942), autor do clássico O homem sem qualidades, começou sua carreira em 1906, com a publicação de O jovem Törless, que há poucos dias foi objeto de nova e cuidadosa edição pela Editora Nova Fronteira, com tradução de Lya Luft e apresentação inédita de Antônio Xerxenesky, escritor, tradutor e doutor em Teoria Literária pela USP.
A publicação faz parte da Biblioteca Áurea da Nova Fronteira, na qual já foi publicado o romance O homem sem qualidades. Musil foi oficial militar, depois estudou engenharia. Doutorou-se, no entanto, em filosofia. Trabalhou em diversas revistas literárias e integrou o Exército austríaco na primeira guerra. Por sua atuação foi condecorado capitão. Com a ascensão do nazismo, seus livros foram proibidos na Alemanha e na Áustria, o que fez mudar-se para Genebra, Suíça, onde passaria os últimos anos ao lado da mulher, Martha Marcovaldi.
Ao narrar a formação de um adolescente vivendo em um rigoroso internato, este romance, na verdade, é uma das primeiras e mais radicais denúncias dos sistemas totalitários europeus que surgiriam depois da Primeira Guerra Mundial. Nas aventuras e desventuras de Törless, o que fica patente é o protesto contra todo e qualquer sistema que só se impõe à custa da violação da liberdade do indivíduo. No livro estão presentes as audaciosas análises psicológicas que logo depois se tornariam características do expressionismo germânico.
"Uma nova edição de Törless serve para rastrear as origens de sua obra-prima, O homem sem qualidades. Kathrin Rosenfield, a maior especialista do Brasil na obra de Musil, expôs, em diversos artigos, a maneira como Törless apresenta a matéria-prima ética e estética que seria intelectualmente desenvolvida ao longo de anos e culminaria em O homem sem qualidades, ao mesmo tempo em que o livro existe e resiste como uma joia narrativa em si", escreveu Antônio Xerxenesky na apresentação.
E palavras...
História das mudanças demográficas e migrações
Todos sabemos que daqui a algumas décadas, em muitos países europeus, haverá mais imigrantes do que nativos. Há quem diga que essa será a maior revolução da história. Migrações em massa, epidemias, fome, guerras, progresso tecnológico. O mundo moderno foi definido por ondas de transformação demográfica. Nós todos somos os atores da maior história do planeta.
A maré humana: a fantástica história das mudanças geográficas e migrações que fizeram e desfizeram nações, continentes e impérios (Editora Zahar, 380 páginas, tradução de Maria Luiza X. de A. Borges ) de Paul Morland, pesquisador fellow no Birkbeck College, Universidade de Londres, trata justamente do tema que é essencial na atualidade. Morland é especialista em demografia e graduou-se na Universidade de Oxford. Posteriormente, obteve seu PhD na Universidade de Londres.
O grande e muito bem embasado estudo de Morland trata, na primeira parte, do peso dos números, números que são nada menos que a soma de esperanças, amores e medos de cada ser humano individual. A segunda parte da obra trata da maré montante entre os europeus, falando do triunfo dos anglo-saxões, dos desafios alemão e russo, do perecimento da "Grande Raça", do Ocidente desde 1945 desde o baby boom até a imigração em massa e da Rússia e Bloco do Leste a partir de 1945 e a demografia da derrota na Guerra Fria.
Na terceira e última parte do volume, o autor mostra a maré humana tornando-se global, para além da Europa. "Japão, China e Ásia oriental, o envelhecimento dos gigantes", "O Oriente Médio e o Norte da África, a demografia da instabilidade" e "Nada de novo sob o sol?, fronteiras finais e perspectivas futuras" são os títulos dos capítulos.
Nas páginas finais do livro estão dois apêndices sobre cálculo de expectativa de vida e cálculo de taxa de fecundidade, além de notas, índice remissivo, agradecimentos e referências bibliográficas.
A ascensão e a queda do Império Britânico; o surgimento dos Estados Unidos como uma superpotência; desafios globais como o nazifacismo e a Guerra Fria, essas são as manchetes da história, mas elas não podem ser de todo compreendidas sem entendermos o papel desempenhado pela população.
Nascimentos, mortes e migrações foram a força motriz do mundo moderno, e a demografia (o estudo da população) é a chave para interpretá-lo. A maré humana mostra como períodos de rápida transição populacional - um fenômeno que emergiu primeiro nas Ilhas Britânicas a partir de 1800, mas aos poucos se espalhou pelo globo - moldaram o curso da história.
Mudanças demográficas explicam por que a Primavera Árabe eclodiu e se desfez, como a China ascendeu de modo tão meteórico e por que, recentemente, a Grã-Bretanha votou pelo Brexit e os Estados Unidos por Donald Trump. Com sua visão panorâmica e poder absoluto dos números, o livro deixa muito claro que a história moderna é a história da transformação demográfica global.
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