30 DE OUTUBRO DE 2019
TE MOSTRA RIO GRANDE
Empresa de Santa Cruz se aproxima da comunidade e impulsiona negócios
Mercur criou Laboratório de Inovação Social, no qual desenvolve produtos de tecnologia assistiva que beneficiam a população.
O negócio tinha mais de 80 anos e nome internacional quando Jorge Hoelzel Neto, terceira geração da família à frente da Mercur, de Santa Cruz do Sul, decidiu virar a chave. Ainda que os itens para educação e saúde fabricados pela empresa já tenham sido exportados para Ásia e América Central - inclusive com uma subsidiária em Miami -, há 10 anos a decisão foi olhar para perto e ouvir o que a comunidade tinha a dizer.
- Temos muitas coisas para consumir, mas poucos relacionamentos. Acreditamos muito que a construção de relacionamentos que valorizam a vida é o que vai nos fazer evoluir - explica Hoelzel, neto e sobrinho- neto dos irmãos fundadores da Mercur, empresa de 1924.
Uma série de mudanças de gestão foi tomada para reduzir impactos negativos causados pela indústria e sustentar o projeto no longo prazo. Uma delas foi o foco no mercado interno. Antes, fazia vendas relevantes para o Exterior e, hoje, exporta apenas para o Uruguai e a Guatemala, mas tem aumento nas vendas nacionais.
Virada ainda mais profunda foi na forma de criar produtos. Um exemplo foi a decisão de não produzir mais materiais escolares licenciados, que veio a partir da provocação de professores da rede de ensino de Santa Cruz do Sul. Em contato com a empresa, eles justificaram que uma borracha de desenho animado, além de não contribuir com a aula, mais divide do que aproxima as crianças, já que nem todas podem ter o objeto.
Rodas de conversas, oficinas e espaços de aprendizagem entraram no cotidiano da Mercur.
- Reunir as pessoas envolvidas nos diversos assuntos que são tratados na empresa é uma prática que foi tomando forma, por entendermos que qualquer decisão só se legitima a partir da participação de todas as pessoas que são impactadas de alguma forma - afirma.
Engajamento
Há quatro anos, a Mercur criou o Laboratório de Inovação Social. Ali, o foco é usar a experiência da empresa para criar produtos de tecnologia assistiva - artigos que ajudam pessoas com deficiência ou em recuperação médica. Além dos técnicos da Mercur, consumidores e profissionais de saúde, educação e design criam juntos as soluções. Um fixador de mão em tira, por exemplo, pode ajudar alguém que perdeu movimentos a voltar a escrever. Ou um giz de cera robusto e um tubo de tinta que foram pensados para quem tem dificuldade de preensão palmar podem ajudar alguém a se expressar artisticamente.
Mais de 20 recursos de tecnologia assistiva, feitos com a participação da comunidade, já foram produzidos. Um deles veio da ideia de uma mãe em busca de autonomia para a filha com paralisia. Depois de uma das oficinas de cocriação, ela recortou uma bolsa para água quente, feita de borracha, e improvisou um fixador em alça para ajudá-la a segurar a mamadeira. Virou protótipo, em um processo cada vez mais colaborativo.
- As pessoas com deficiência vêm até aqui, trazem os seus pais, seus cuidadores, o terapeuta ocupacional, todos aqueles que estão envolvidas na vida dela. A partir disso, criamos um produto para ela - explica Hoelzel.
O jeito diferente de enxergar a relação entre negócios e comunidade vem dando certo. Com frequência, a Mercur é procurada por universidades e outras empresas, inclusive de fora do Estado, para contar a experiência. Os aprendizados até já viraram curso em uma universidade em Santa Cruz do Sul e em outra de São Paulo.
MAIARA MEDINA
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