26 DE OUTUBRO DE 2019
ESPIRITUALIDADE
O QUE É UM ANJO?
"A mão que afaga é a mesma que apedreja
Se alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija."
(Augusto dos Anjos)
Meu amigo poeta do tempo de escola. Adorávamos suas rimas amorosas e plenas de amizade, amor, ternura, confiança - tudo que poderia fazer a vida mais gentil. Será? Por que gostávamos de falar palavras rudes e desacreditar da amizade e do amor?
Se era uma brincadeira da puberdade, o sentido ficou marcado profundamente em quem repetiu a frase tantas vezes que até hoje, mais de 60 anos depois, ainda está clara na memória.
As decepções, as exclusões, as exigências e as rejeições podem forjar seres solitários, revoltados. Ou não. O monge Ryokan, do século 17, no Japão, certa feita foi confundido com um ladrão e apanhou muito. Não reclamou.
Aceitou e se foi rindo da confusão do dono das melancias, que pedia perdão. Afinal, ele tinha se abaixado apenas para amarrar as sandálias de palha.
Afetos e desafetos.
Amores e traições.
Confusões. Sem olhar em profundidade cada qual se considera correto.
O que teria acontecido com Augusto - ele que era dos Anjos?
O que é um ser angelical?
Nos quadros medievais, suas faces são suaves, mãos e pés de dedos e artelhos longos, brancos.
Anjos negros? Por que não foram assim pintados pelos europeus?
Ateus e crentes são capazes de dialogar sem criticar, julgar ou querer convencer?
Anjo, Augusto dos Anjos, o que teria acontecido para escrever tal poema?
Amor e ódio - pares eternos?
Ou será que há amor que não cobra e nada pede?
Que ama por amar e nada mais?
Será que é possível afagar a mão que apedreja?
Ao invés de escarrar, melhor seria não beijar a boca falsa...
Equânime é o ser capaz de sentir compaixão pela vítima e pelo vitimador. Só é possível com muito treino. A compaixão não é visceral. Use a inteligência e vá além da dor, da aversão, do apego e da delusão.
Como sentir compaixão por quem causa divisão, briga, ódio, fake news, mata, estupra, mente, finge, corrompe e rompe todos os processos éticos legais que deveria estar a unir e a respeitar? Esforço correto. Não desista. É possível.
Vamos iniciar agora? Basta lembrar que cada ser que encontrar é um ser iluminado disfarçado. No Caminho, não há inimigos. Nada a temer. Nada pelo qual matar e/ou morrer. Nada a odiar e exterminar. Apenas entender e trabalhar para a transformação do ódio em ternura. Respire e venha se juntar a quem sabe imaginar e faz acontecer. Seja um átomo de paz.
Mãos em prece. Monja Coen escreve a cada 15 dias neste espaço. Na próxima semana, leia a coluna de Bruna Lombardi
MONJA COEN
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