quinta-feira, 2 de junho de 2011


CLÓVIS ROSSI

O Brasil comprou a Copa?

SÃO PAULO - Agora que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, admitiu candidamente que o Qatar "comprou" a Copa do Mundo de 2022, vale perguntar se o Brasil comprou a Copa de 2014.

Pergunta impertinente mas que tem toda a lógica, se o leitor acompanhar o breve histórico feito por Rob Hughes, patriarca do colunismo esportivo, que escreve para o "Times" de Londres mas tem sua coluna publicada também pelo "International Herald Tribune".

Hughes diz que o afastamento, por suspeita de corrupção, de dois altos dirigentes da Fifa (Mohamed bin Hammam e Jack Warner) "dá credibilidade às muitas pessoas de fora que vêm dizendo há anos que a Fifa é tão institucionalmente corrupta que ninguém pode salvá-la ou reformá-la".

A hipótese de que a Copa veio para o Brasil pela corrupção institucionalizada fica reforçada pela descrição que o colunista faz de como evoluíram as coisas a partir do reinado do brasileiro João Havelange.

Segundo Hughes, "Havelange ganhou poder basicamente por meio do sistema um-país-um-voto pelo qual a Fifa escolhe seu presidente -e ganhou-o substancialmente por persuadir pequenas federações nacionais na África e, depois, no Caribe e na Ásia, a votar por ele. Em troca, deu a elas dinheiro [da Fifa] para erguer suas próprias estruturas.

Pagou por isso vendendo a joia da coroa do futebol, a Copa do Mundo", transformada em "um triângulo dourado (Copa, exposição na TV e patrocínio das corporações) que se autoperpetua".

Só resta acrescentar que quem trouxe a Copa-2014 para o Brasil chama-se Ricardo Teixeira, que, além de presidente da CBF, é genro de Havelange, o construtor do "triângulo de ouro".

É sempre possível que a Copa tenha vindo para o Brasil porque somos um país maravilhoso, de gente linda e amável. Mas você excluiria liminarmente outra hipótese menos glamourosa?

crossi@uol.com.br

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