terça-feira, 7 de junho de 2011



07 de junho de 2011 | N° 16723
PAULO SANT’ANA


O sofrimento e a alegria

Às vezes, chego a pensar que Deus me manda o sofrimento no limite máximo e exato em que poderia suportá-lo e me manda a alegria também aquém do limite em que meu coração arrebentaria de júbilo se fosse mais intensa.

Mais do que esse limite máximo de sofrimento, talvez seja a morte.

Mais do que esse limite de alegria, talvez seja a loucura.

Por sinal, meus leitores e leitoras, já lhes passou pela cabeça o que se passa na cabeça de um louco?

Será que alguma vez uma criatura que já foi completamente louca e se curou de sua loucura pôde discernir o que passava pela sua cabeça durante aquela doença? E será que depôs depois a respeito do que sentia e pensava?

Eu digo isso porque não me lembro do que se passava na minha cabeça quando eu tinha entre zero e cinco anos de idade.

Só de quando eu tinha seis anos de idade é que me sobram lembranças ainda tênues daquele tempo.

Lembro-me, por exemplo, de que gostava de amoras, mas não me lembro de com qual calçado eu ia à aula, no primeiro ano primário. Era tamanco, muito usado na época? Era chinelo? Era sapato?

E o que eu vestia para ir ao colégio, em cima do tapapó (deste eu me lembro), no inverno? Não me lembro de vestir agasalho no inverno. Será que vestia?

Então, se uma pessoa se cura da loucura, ela também não deve ter lembranças de seu tempo de louco.

É um branco, um vazio na memória da gente, tanto o tempo da menor meninice quanto o tempo de loucura.

Por isso é que muitas vezes, quando um delegado de polícia está interrogando um acusado de assassínio e lhe pergunta como foi o crime, ele responde: “Eu não lembro, senhor delegado”. Se não for fingimento para fugir à acusação, pode acontecer, sim, senhores, esse hiato na memória.

O assassinato, neste caso, pode ter sido aquele chamado “ato de loucura”.

E assim vai a vida. A minha não é diferente da de ninguém. Ela distribui todos os dias, mal nasce o sol, alegrias e tristezas. Temos de suportar as tristezas e incorporar as alegrias.

A banca paga e recebe. Temos de ser dignos quando ela nos cobra e vibrar quando ela nos paga.

Ninguém vive só de pagamentos. E nem suporta somente cobranças.

Em síntese, a vida é boa. E, quando ela destoa, aí é que temos de ser resistentes.

Leitor ou leitora, insista quando a vida for boa.

E resista quando pretear o olho da gateada.

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